Os “Ups and Downs” da energia em 2025

Por Manuel Pina, Diretor-Geral da Otovo Portugal, Espanha e França

O próximo ano antecipa-se dinâmico no setor da energia em Portugal e, dependendo da perspetiva, existem muitos fatores, internos e externos, que poderão ser encarados como verdadeiros “ups and downs” que faz sentido analisar. Contudo, e daí o recurso ao anglicismo anterior, a única certeza que temos para já é que teremos, a partir de janeiro, um “novo” protagonista mundial do lado de lá do Atlântico que se afirma capaz de alterar o status quo do mercado verificado nos últimos quase três anos.

Entre os fatores internos e externos aos quais me refiro, um dos mais preponderantes é o do preço da energia. Para 2025, por cá, prevê-se que a energia ficará mais cara. Mas isto pode não significar um aumento efetivo na fatura de eletricidade para os consumidores. Estranho? Talvez. Mas tem uma explicação simples: a ERSE (entidade reguladora) propôs um aumento de 2,1% do preço da energia no mercado regulado face ao valor atual em vigor, mas esta subida será mitigada na fatura de eletricidade pela descida do IVA para 6% já prevista para consumos até 200 KWh mensais. Isto significa que, na melhor das hipóteses, o consumidor final irá registar uma estabilização nos custos da energia.

Por outro lado, temos um outro fator, neste caso externo, que pode alterar por completo esta realidade. A tomada de posse de Donald Trump deverá causar impacto na economia europeia no geral e no setor da energia em particular. Além do propagado protecionismo económico, o recém-eleito Presidente dos EUA também prometeu acabar de imediato com o conflito na Ucrânia. Se considerarmos que, de acordo com os estudos mais recentes, o preço da energia subiu entre 62% e 112% na Europa desde o início da guerra, não é difícil concluir que o efeito Trump poderá mudar o status quo verificado no mercado desde fevereiro de 2022.

Mas além do preço, que acaba por influenciar diretamente os comportamentos dos consumidores, existem outras variáveis que terão também impacto. Falo dos incentivos públicos à transição energética, que funcionam sempre como um acelerador importante para o mercado da energia. Neste âmbito, o Governo anunciou recentemente não só uma recapitalização do programa Edifícios Mais Sustentáveis, com o intuito, sobretudo, de reembolsar as candidaturas em falta desde o último Aviso, como também dois novos programas de apoio dirigidos às famílias mais vulneráveis.

A Ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, não partilhou grandes detalhes nesta comunicação e, como tal, é ainda prematuro fazer-se grandes juízos de valor sobre estas medidas. Mas a Ministra anunciou a criação de Agência para o Clima que deverá priorizar que os futuros incentivos possam ser, acima de tudo, de fácil acesso e de fácil análise.

De fácil acesso permitindo que um maior número de famílias, independentemente da sua capacidade financeira, possa ser abrangido, sendo para isto fundamental a inclusão nestes apoios de modelos como o de subscrição e não apenas os de pagamento único, permitindo, deste modo, às famílias terem acesso aos incentivos sem terem que fazer grandes investimentos iniciais. Depois, é preciso que sejam de fácil análise para que todas as famílias não tenham que esperar mais de um ano para verem as suas candidaturas apreciadas e os seus investimentos reembolsados.

Portugal em 2025 enfrentará uma conjuntura global desafiante, sobretudo no que diz respeito ao setor da energia. O imperativo de cumprir o PRR em tempo útil e de atingir as metas verdes assumidas com a União Europeia torna prioritária a criação de incentivos mais abrangentes e mais capazes de envolver as famílias portuguesas no tão almejado objetivo da transição energética.