O que nos espera no mundo do trabalho?
Por David Carvalho Martins, Advogado, Sócio Fundador e Administrador da DCM | Littler
O ano de 2024 foi rico em desafios laborais. Por seu lado, o ano de 2025, para além de dilemas conhecidos, será provavelmente marcado por um nível muito significativo de incertezas que se podem antecipar e algumas já se fazem sentir.
Com avanços tecnológicos, desafios económicos e reformas em perspetiva, o Mundo do trabalho enfrenta transformações que apontam caminhos para o futuro. Estas mudanças destacam-se em três áreas fundamentais: (i) a revisão da legislação laboral, (ii) a evolução das dinâmicas de trabalho e sustentabilidade e (iii) o impacto da inteligência artificial (IA).
No que diz respeito à primeira área, empregadores e trabalhadores foram confrontados com alguns excessos e soluções desproporcionais decorrentes da reforma laboral de 2023 (Agenda do Trabalho Digno). Não é, por isso, surpreendente a notícia de uma revisão e atualização muito aguardada da legislação laboral que atenda às particularidades do mercado de trabalho português, mas também aos estímulos e às incógnitas que se colocam às economias ocidentais.
No que toca à segunda área, cabe referir que Portugal manteve uma taxa de desemprego relativamente baixa, o que é socialmente desejável, mas coloca entraves ao desenvolvimento económico, devido à falta de trabalhadores disponíveis, independentemente do respetivo nível de qualificação. Nesse sentido, é necessário encontrar um novo caminho para reter os trabalhadores qualificados em Portugal, bem como atrair e acolher os trabalhadores estrangeiros que procuram trabalho em Portugal e que podem responder com sucesso à referida falta de mão-de-obra. Esperamos que o tema da imigração seja abordado de forma objetiva, nomeadamente em diálogo com a legislação laboral.
Por fim, a integração da IA no Mundo do trabalho destacou-se como o principal catalisador de transformações em 2024. Ferramentas baseadas em IA, especialmente as que utilizam algoritmos generativos, foram amplamente aplicadas em tarefas repetitivas e na análise de dados. Contudo, estas inovações levantaram preocupações quanto à substituição de postos de trabalho e ao impacto nos trabalhadores.
Por outro lado, a adoção da IA exige um “kit de sobrevivência” que inclua formação contínua dos trabalhadores, regulações claras para a proteção de dados e uma abordagem equilibrada entre automação e competências humanas, como criatividade e empatia. Para além disso, é crucial que organizações e governos implementem regulações proativas destas tecnologias, evitando abusos e promovendo um mercado laboral mais justo, sem coartar a liberdade necessária ao crescimento e ao desenvolvimento económico e social.
Salvo melhor opinião, o ano de 2025 promete ampliar os desafios e oportunidades de 2024. A combinação de tecnologia, legislação e sustentabilidade será essencial para definir o futuro do trabalho. As organizações deverão apostar em modelos flexíveis, investindo em formação, políticas inclusivas e estratégias sustentáveis.
A ética no uso da IA, associada à promoção da colaboração entre trabalhadores e tecnologia, será fundamental para evitar desequilíbrios sociais e económicos. Por outro lado, o reforço da educação e a modernização das políticas laborais são passos necessários para garantir competitividade e justiça no mercado laboral.
Com bases sólidas em inovação, diversidade, inclusão e sustentabilidade, cabe aos vários intervenientes do mercado de trabalho – empregadores, trabalhadores e governos – unir esforços para transformar desafios em oportunidades. Em 2025, o trabalho humano permanecerá no centro, mas dependerá de adaptações constantes num Mundo em rápida evolução.