Governação da IA: Um investimento estratégico para o futuro

Por Solange Sobral, Partner & EVP da CI&T

À medida que as empresas aprofundam o potencial da IA generativa para a inovação e a eficiência, vários projetos estão ainda no começo, com a maioria das validações de conceito a ocorrer a uma escala pequena. Embora caminhar com passos lentos ajude a evitar riscos imediatos, também significa que não estamos a explorar totalmente o potencial da IA – ou a compreender os desafios que ela traz.

À medida que a IA Generativa evolui, os riscos que comporta também o fazem. Para que as empresas possam realmente colher os benefícios desta tecnologia, é crucial que desenvolvam em paralelo os enquadramentos de governação que a vão reger. A IA está a ganhar preponderância, e as empresas precisam de estar preparadas, sendo por isso muito importante a gestão inteligente dos riscos.

Infelizmente, a regulamentação ainda está atrasada em relação ao rápido avanço da IA. Os decisores políticos em todo o mundo estão a tentar lidar com as complexidades desta tecnologia, mas ainda se está a trabalhar em regulamentações que sejam sólidas e consistentes. A recente Lei da IA da União Europeia e as discussões em curso no Reino Unido mostram como é difícil criar um ambiente regulamentar integrado a nível global. Esta lacuna deixa as organizações numa espécie de limbo de governação.

A lacuna na governação: as empresas têm de assumir a liderança

Na ausência de orientações claras, é mais importante do que nunca que as empresas assumam o controlo e criem os seus próprios enquadramentos de governação da IA. Alguns dos fatores que devem incluir são:

• Avaliação de riscos: É fundamental identificar os potenciais riscos da utilização da IA, como problemas de privacidade de dados, ameaças à segurança, preconceitos e preocupações éticas. Avaliações de risco regulares vão ajudar as organizações a prever novos desafios.
• Diretrizes éticas: Importa também definir princípios éticos claros para o desenvolvimento e utilização da IA, que se alinhem com os valores da empresa e com as expectativas sociais mais amplas.
• Governação de dados: A implementação de práticas sólidas de gestão de dados para proteger informações sensíveis é crucial – como políticas de proteção de dados, controlo de acessos e orientações sobre quanto tempo manter os dados.
• Responsabilidade pelo algoritmo: É necessário criar processos para monitorizar e auditar os algoritmos de IA, garantindo que os enviesamentos, erros e consequências não intencionais são detetados e tratados.
• Transparência e comunicação: Deve existir um incentivo à comunicação aberta sobre os projetos de IA, tanto dentro da empresa como com os stakeholders externos, para criar confiança e resolver quaisquer preocupações.
• Educação: É fundamental investir na formação e no desenvolvimento dos colaboradores, dotando-os com os conhecimentos e as competências para compreenderem, implementarem e monitorizarem eficazmente os sistemas de IA. Educar as equipas sobre os potenciais benefícios e riscos da IA pode ajudar a cultivar uma cultura de inovação responsável e minimizar os efeitos negativos da utilização indevida.

A governação eficaz da IA requer trabalho por parte de toda empresas, pessoas que as compõem e até de cada setor económico, com um linguagem e lições partilhadas. Por exemplo, o GDPR criou funções de Diretores de Proteção de Dados (DPOs); da mesma forma, o crescimento da IA exige que apareçam outros novos cargos, mais direcionados para a sua governação.

Uma abordagem de colaboração é fundamental para ultrapassar os desafios e promover uma cultura de IA responsável. Aprender com a prática é essencial, e as organizações podem inspirar-se em estudos de caso de empresas que já implementaram com sucesso a governação da IA.

Investir na governação da IA: uma estratégia inteligente a longo prazo

Sem uma governação sólida, riscos como as violações de dados podem tornar-se erros dispendiosos. Investir na governação da IA permite que as empresas implementem práticas robustas de gestão de riscos desde o início dos projetos. Por outro lado, construir esta estrutura de forma proativa e investir numa abordagem a longo prazo significa que os problemas potenciais podem ser identificados e resolvidos antes de que se agravem, reduzindo danos à reputação, problemas legais e perdas financeiras significativas no futuro. Ver a governação da IA como um investimento a longo prazo revela-se muito vantajosa em vários sentidos.

Promover a inovação com segurança

Um dos maiores equívocos é que a governação sufoca a inovação. Pelo contrário, um enquadramento de governação de IA bem elaborado pode até acelerar a inovação. Ao fornecer diretrizes claras, reduz a incerteza, permitindo que as equipas explorem as aplicações de IA com mais confiança. Tendo consciência de que os riscos são acautelados, as empresas podem explorar as potencialidades da IA, levando a descobertas que de outra forma poderiam ser demasiado arriscadas. Assim, a governação torna-se um catalisador da inovação, e não um obstáculo.

As empresas que dão prioridade à governação da IA num mercado cada vez mais competitivo vão distinguir-se. À medida que os ambientes de regulamentação são mais rigorosos, quem tiver estruturas sólidas consegue facilmente cumprir as novas leis e regulamentos, evitando possíveis penalidades. Para além disso, ser visto como um líder da utilização ética da IA pode fazer a diferença para uma empresa aos olhos dos consumidores, que estão a tornar-se mais conscientes da forma como os seus dados e a IA estão a ser utilizados. Esta vantagem de reputação pode traduzir-se em liderança de mercado.

Estar preparado para os desafios e oportunidades futuros

Ao investir na governação desde já, os líderes vão estar mais bem preparados para se adaptarem a mudanças futuras – envolvam elas novos regulamentos, avanços tecnológicos ou mudanças nas expectativas do público. Uma estrutura de governação bem estabelecida oferece flexibilidade para ajustar as estratégias conforme necessário, garantindo que as empresas permanecem competitivas e em conformidade, independentemente de como o cenário de IA evolua. A governação de IA não se trata apenas de evitar armadilhas – trata-se de construir uma base para o crescimento sustentável e o sucesso num futuro que será certamente impulsionado pela IA.