ESG: o valor humano como recurso essencial

Por Bárbara Clemente, BPC & Architecture Associate, WELL AP & Workplace Strategist, Savills

 O que significa o investimento no valor Social no mercado imobiliário? Qual o retorno e propósito de olhar para este fator ESG como um investimento e não apenas como mais um custo?

O setor imobiliário está a testemunhar uma transformação significativa à medida que o investimento em saúde e bem-estar se torna uma prioridade. Cada vez mais, as organizações percebem que alocar recursos para melhorar o bem-estar dos ocupantes dos seus edifícios não é apenas uma responsabilidade social, mas também uma estratégia que gera retorno financeiro. Esta mudança de paradigma está a ser impulsionada pelos princípios da variável “S” do ESG (Environmental, Social and Governance), cujos benefícios se refletem diretamente em indicadores financeiros cruciais para o setor, como taxas de ocupação mais altas, contratos de arrendamento de longo prazoe maior valorização dos imóveis.

A incorporação do investimento no valor social ao longo do ciclo de vida dos projetos imobiliários revela-se essencial. Este conceito, muitas vezes negligenciado por promotores e investidores é, na verdade, um investimento estratégico e não um custo. No entanto, existe ainda uma perceção limitada deste valor social como parte integrante de uma estratégia de negócio. Esta visão está a mudar, sobretudo em mercados mais desenvolvidos, onde certificações de edifícios como a WELL estão a ganhar relevância. De acordo com o International WELL Building Institute (IWBI), este selo demonstra que os espaços projetados com foco no bem-estar proporcionam um aumento de 28% na satisfação no local de trabalho, 26% nos índices globais de bem-estar, 10% na saúde mental percebida, além de impactar positivamente no valor dos imóveis, com rendas entre 4,4 – 7,7% mais altas por metro quadrado e prolongar a duração média dos contratos de arrendamento para 75,3 a 88,3 meses – no mercado português atualmente a média dos contratos de arrendamento do sector de escritórios é de 60 meses.

Estes números refletem o impacto positivo deste tipo de iniciativas na produtividade das pessoas e, como tal, nos resultados financeiros das empresas. Os dados são claros: o investimento em saúde e bem-estar traz hoje retornos tangíveis. Por exemplo, estima-se que tais intervenções tenham um impacto positivo de 73% na taxa de arrendamento e de 62% no valor dos imóveis. A satisfação dos ocupantes também é significativa (79%), evidenciando que a qualidade de vida e o conforto são fatores determinantes para o sucesso de um empreendimento imobiliário. De acordo com os dados do IWBI, em 2023 cerca de 23,8% das empresas do setor imobiliário, 23,64% do segmento de indústria e 25,26% da área financeira, cotadas no Fortune 500, estavam alinhadas com o investimento em valor social.

Mesmo que confirmados os números, a questão do valor intangível que o setor imobiliário pode trazer à comunidade é complexa. No entanto, é inevitável reconhecer que, tal como aconteceu com as preocupações ambientais anteriormente, as questões sociais do ESG estão a ganhar destaque. De acordo com o Savills Impacts, tópicos como a pobreza, a escassez de habitação acessível e a desigualdade social, estão a forçar os investidores a reconhecer que os seus projetos têm responsabilidade perante a sociedade. Este impacto, quando positivo e por exemplo, com definição de políticas de recrutamento e de estratégias para a cadeia de valor responsáveis, não só melhora a reputação das empresas, como também cria ambientes urbanos mais sustentáveis e habitáveis, aumentando o valor dos imóveis.

Com isto, reforçamos que a aceitação do valor social não pode ser uma mera tendência ou uma exigência regulatória, com o cumprimento dos ODS, mas sim ser parte de uma mudança cultural mais ampla nas organizações. A capacidade de medir e quantificar este valor é crítica para a sua integração no ciclo de vida dos projetos. Em Portugal, já existem ferramentas que apoiam na medição dos objetivos não-financeiros das empresas, com metodologias consistentes e práticas de recolha de dados essenciais para evitar práticas de “greenwashing” social.

No passado, muitos investidores encaravam o “E” do ESG com ceticismo. Hoje, o impacto ambiental dos edifícios é uma prioridade e os que não o consideram correm o risco de ver os seus ativos tornarem-se obsoletos. Da mesma forma, aqueles que ignorarem o impacto social dos seus projetos podem enfrentar um futuro semelhante. Edifícios que integram o valor social nas suas estratégias, serão líderes de mercado, tal como os primeiros projetos a receberem reconhecida certificação BREEAM se tornaram referências em sustentabilidade.

Incorporar o valor social ao longo do ciclo de vida de um projeto imobiliário é uma questão de responsabilidade corporativa, mas também uma estratégia inteligente de investimento que gera retornos financeiros e melhora o desempenho das organizações. A saúde e bem-estar como prioridade potencia o aumento da produtividade, mitiga o absentismo e reduz custos associados a apoios médicos. Mais importante ainda, aproxima as empresas às pessoas, criando valor social e financeiro de forma sustentável e duradoura. Porque no fundo, o recurso mais importante de qualquer organização são as suas pessoas.

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