Como reabilitar preservando a identidade dos edifícios históricos ao mesmo tempo que adaptamos às necessidades atuais?

Por Marta Cadete, Head of Development & Asset Management EastBanc

Nos últimos anos, Portugal tem assistido a um notável sucesso na reabilitação urbana, especialmente nos bairros dos centros históricos das cidades como a Baixa-Chiado, Avenida da Liberdade, Estrela ou Campo de Ourique em Lisboa. Ao combinar esforços públicos e privados, foram transformadas áreas degradadas em espaços vibrantes e atrativos garantindo a preservação da identidade das mesmas. No entanto, é fundamental reconhecer que, apesar desses progressos, ainda há desafios a superar para garantir uma contínua reabilitação sustentável e acessível.

No contexto atual, a vida nos centros urbanos é cada vez mais apreciada pelas boas acessibilidades e proximidade entre habitação, trabalho, lazer e comércio. A facilidade de deslocação a pé, bicicleta ou através de transportes públicos é uma vantagem significativa. Além disso, a qualidade de vida proporcionada por bairros com diversidade cultural, geracional, de património histórico, comércio e restauração é inestimável. Assim sendo, é crucial debater como podemos reabilitar preservando a identidade dos edifícios históricos enquanto os adaptamos às necessidades atuais.

Seguindo esta lógica, é importante destacar que os Projetos de Reabilitação Urbana devem ser, na verdade, projetos de regeneração não só arquitetónica, mas também social e económica, alargados à envolvente: projetos caracterizados pela responsabilidade de atualizar e modernizar a cidade, incrementar a sua capacidade populacional e responder a novos conceitos de utilização dos espaços e serviços, promovendo uma relação com a identidade do espaço urbano – e evitando trabalhos e/ou projetos focados na manutenção de fachadas ou limitados ao edifício per si.

Além disso, o investimento em reabilitação urbana ainda é inferior ao esperado, uma vez que os principais desafios da integração de um novo programa de ocupação de um espaço resultam da elevada exigência técnica e legal atualmente requerida aos projetos, que impacta diretamente nas soluções construtivas, nomeadamente ao nível de conforto dos espaços, segurança e de condicionamento acústico exigido versus a integração, recuperação e conservação dos elementos patrimoniais existentes.

É importante acrescentar que neste momento também a sustentabilidade faz cada vez mais parte do ADN dos edifícios reabilitados e encontra-se na agenda de todos os promotores imobiliários. Afinal, em linha com as políticas da União Europeia, Portugal, no seu Plano Nacional de Energia e Clima para o horizonte 2021-2030 (PNEC 2030), estabeleceu linhas específicas para os edifícios visando a redução da sua intensidade carbónica e a promoção da sua renovação energética, com o objetivo da implementação do conceito de Nearly Zero Energy Buildings (nZEB), tanto na construção nova como na reabilitação de edifícios existentes.

O Anjos Urban Palace é um exemplo no portfólio da EastBanc Portugal que se destaca pela sustentabilidade, tendo recentemente recebido a certificação “Excellent” do BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method) em Design Stage. Esta certificação foi obtida após uma avaliação independente e minuciosa que mede o desempenho ambiental e social dos edifícios. É importante salientar que na reabilitação urbana, é mais desafiante cumprir os requisitos de sustentabilidade em comparação com a construção nova, resultado de algumas restrições, como é exemplo a colocação de painéis solares em centros históricos ou edifícios classificados.

Atualmente, além do Anjos Urban Palace, a EastBanc é proprietária de cerca de 20 edifícios no Príncipe Real. Ao longo dos últimos 20 anos, o nosso compromisso é para com a revitalização urbana, e não só com a “reabilitação”. Isto significa que em todos os nossos projetos, dedicamo-nos a respeitar a identidade histórica dos edifícios e da envolvente onde se inserem, adaptando os seus usos às necessidades atuais do mercado. O nosso grande propósito consiste em tornar o bairro do Príncipe Real um local atrativo para visitar, trabalhar e residir, garantindo a preservação da sua identidade, por exemplo, através do envolvimento da comunidade local nos projetos de reabilitação.

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