A inflação está a mudar a qualidade de vida dos portugueses e o seu comportamento de compra

Por José Borralho, CEO da ConsumerChoice

Nos últimos anos, a inflação e os desafios relacionados têm-se tornado uma preocupação central na vida dos portugueses. A economia nacional enfrenta um período desafiante, com o aumento dos preços, o que afeta significativamente o quotidiano das famílias e a sua perceção sobre a situação económica do país. Dados indicam que 91% dos consumidores possuem uma visão negativa do estado económico atual, utilizando termos como “angústia” e “desilusão” para descrever os seus sentimentos.

A inflação em Portugal, assim como em muitos outros países europeus, resulta de uma combinação de fatores internos e externos, entre os quais o aumento dos custos de produção, incluindo salários e matérias-primas, que contribuem substancialmente para a subida dos preços, e ao qual não fica, igualmente, indiferente o conflito na Ucrânia, com repercussões económicas globais que alimentam o crescimento contínuo da inflação.

De acordo com um estudo realizado pela ConsumerChoice, a inflação afeta a sociedade de diferentes maneiras. Cerca de 40% dos consumidores afirmaram que o aumento dos preços impactou significativamente a sua qualidade de vida. As famílias com rendimentos mais baixos são as mais prejudicadas, pois dedicam uma maior proporção do seu orçamento a bens essenciais, como alimentação e energia. Para estas famílias, a inflação acarreta dificuldades adicionais para cobrir as despesas básicas. Muitas vezes, mesmo com aumentos salariais, o ritmo da inflação supera esses ajustes, resultando na perda real de poder aquisitivo.

Para mitigar os efeitos da inflação, os consumidores referem ter vindo a adotar diversas estratégias, como reduzir ou eliminar atividades de lazer, incluindo idas a restaurantes, férias e eventos sociais. No âmbito da alimentação, há uma tendência crescente para a compra de marcas brancas e a redução do consumo de carne, peixe e produtos frescos, optando por alternativas mais económicas. Outras medidas incluem o uso mais frequente de transportes públicos, a maximização de promoções e descontos, a redução de gastos não essenciais, a renegociação de empréstimos e o uso mais frequente de cartões de crédito.

É certo que o Governo português enfrenta um desafio complexo: controlar a inflação sem comprometer o crescimento económico. Medidas como o aumento das taxas de juro podem ajudar a conter a inflação, mas também podem frear o investimento e o consumo, dificultando a recuperação económica. Alguns consumidores sugerem a implementação de uma política de preços máximos para bens essenciais como forma de combater crises inflacionárias futuras.

A inflação em Portugal é um desafio complexo e que não será resolvido rapidamente. No entanto, com políticas bem formuladas e uma abordagem coordenada a nível europeu, será possível estabilizar a economia e melhorar a qualidade de vida dos portugueses. Em suma, somente com uma combinação de políticas económicas inteligentes e apoio social robusto será possível superar este período de incerteza e construir um futuro mais estável e próspero.

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