A evolução global das energias renováveis

Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros

Fazendo um apanhado de várias fontes de informação, é possível obter um conjunto de dados – curiosos e promissores – no que se refere à evolução das energias renováveis no mundo. Alguns desses dados são agora sintetizados:

– em 2023, mais de 30% da eletricidade mundial foi já gerada a partir de fontes renováveis;

– estima-se que até 2028 cerca de 42% da eletricidade produzida tenha origem em fontes de energia renovável;

– em 2023 houve um aumento, sem precedentes, de 50%, da capacidade renovável, ou seja, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), de cerca de 510 GW;

– embora na Europa, nos EUA e no Brasil se tenham atingido níveis recorde, a aceleração na China foi particularmente extraordinária;

– a expansão das renováveis está também a ganhar impulso no Médio Oriente, Norte de África e África Subsaariana;

– segundo a AIE o mundo está a caminho de agregar mais capacidade renovável até 2028 que a instalada desde que se construiu a primeira instalação de energia renovável;

– prevê-se que a solar fotovoltaica e a eólica representarão 95% da expansão renovável, beneficiando de custos baixos;

– em 2024 está previsto que estes dois tipos de renováveis gerem conjuntamente mais eletricidade que a hidroelétrica;

– prevê-se que em 2025, globalmente, as energias renováveis superem o carvão como a maior fonte de produção de eletricidade;

– a China representa quase 60% da nova capacidade renovável prevista para 2028 e em 2030 quase metade da eletricidade lá produzida terá origem em fontes de energia renovável;

– a China é o líder mundial no uso de energia solar fotovoltaica desde 2015 sendo o maior fabricante mundial de painéis fotovoltaicos;

– a Noruega tem 98% da produção da sua eletricidade proveniente de fontes limpas e renováveis, assente sobretudo nas vertentes hidroelétrica e na biomassa;

– esta característica de produção de eletricidade na Noruega permite o desenvolvimento de indústrias de alto consumo energético e um elevado nível de eletrificação da sua economia;

– na América do Sul, o Uruguai está a emergir como um líder a nível das energias renováveis, assente na energia eólica que responde a cerca de 30% da procura de eletricidade;

– com uma combinação de políticas públicas e parcerias público-privadas este país conseguiu descarbonizar a sua matriz elétrica em mais de 95% em menos de 10 anos;

– em abril deste ano, Portugal atingiu novos valores históricos: de acordo com dados da REN (Redes Energéticas Nacionais), 94,9% das suas necessidades de eletricidade foram satisfeitas a partir de fontes renováveis;

– este foi o quarto mês consecutivo com valores de consumo com origem em renováveis acima dos 80%, depois dos 91% em março, 88% em fevereiro e 81% em janeiro;

– em 2023, segundo a REN, Portugal tinha atingido um outro recorde: as fontes renováveis foram responsáveis por 61% do consumo de energia elétrica no nosso país.

 

Verifica-se assim que a energia renovável entrou com força no panorama energético mundial, sobretudo ao transformar o mapa de produção de eletricidade em todo o mundo. O problema principal parece residir na descarbonização dos transportes e de alguma indústria.

Pelo seu crescimento a nível das renováveis, a China terá um papel fundamental para se alcançar o objetivo mundial previsto para as energias renováveis. Tal como no Uruguai, será necessário aprofundar a combinação de políticas públicas e parcerias público-privadas, para se chegar a bom porto.

À medida que se avança na escala do tempo, espera-se que as energias renováveis venham a desempenhar um papel ainda mais proeminente, mas parece que estamos no bom caminho, embora haja ainda muito a percorrer. Nem todos os países avançam à mesma velocidade, pois a necessidade de modificações a nível estrutural, a integração adequada de tecnologias emergentes e a superação de barreiras regulatórias são ainda algumas das tarefas pendentes. Por isso é fundamental a cooperação e compromisso conjuntos entre os governos, as empresas e os cidadãos.

Portugal tem sido um exemplo de liderança e inovação no campo das energias renováveis e da revolução energética global, mas não pode baixar os braços e tem que continuar nesta senda, eventualmente diversificando as fontes e os vetores energéticos de forma a potencializar as produções mais adequadas e a adaptação dos sistemas de produção e de transporte de forma eficaz e não disruptiva.

Há alguns anos, poucos teriam apostado num desenvolvimento tão rápido das energias renováveis. Atualmente estas são a base da transição energética graças à redução do custo das tecnologias e à uma maior consciencialização ambiental da sociedade.

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