A evolução estratégica das áreas de compras: Um motor de transformação nas organizações

Por Miguel Ruah Crujeira, Sourcing and Procurement Director no grupo SIVA|PHS Portugal

As áreas de compras, historicamente vistas como uma função operacional com foco exclusivo na negociação de preços e na gestão de contratos, evoluíram para desempenhar um papel estratégico essencial nas organizações modernas. Essa mudança de paradigma está diretamente associada à crescente complexidade dos mercados, à emergência da transformação digital e à relevância das questões de sustentabilidade e ética empresarial. Além de otimizar custos, as áreas de compras têm-se tornado verdadeiros motores de transformação interna, promovendo a inovação e alinhando as organizações com valores de longo prazo.

Num contexto globalizado e altamente regulado, a área de compras desempenha um papel central na gestão corporativa, assegurando que todas as transações sejam conduzidas através de processos éticos e em conformidade com as legislações locais e internacionais. Essa responsabilidade vai mais além de responder às regulamentações; trata-se de estabelecer processos internos que promovam a transparência e a imparcialidade.

Práticas como due diligence rigorosas têm sido amplamente adotadas para avaliar fornecedores antes de formalizar parcerias. Essas análises antecipadas permitem mitigar riscos legais, reputacionais e ambientais, protegendo as organizações contra exposições indesejadas a práticas comerciais inadequadas. Dessa forma, as áreas de compras posicionam-se como um baluarte da ética corporativa, alinhando a cadeia de valor às políticas anticorrupção e aos valores empresariais.

O compromisso com a sustentabilidade está também a redesenhar o papel das áreas de compras. Além de ser cada vez mais prática comum por parte das empresas a procura de fornecedores que atendam a padrões económicos competitivos, estas áreas encontram-se igualmente, cada vez mais focadas, em garantir que as suas escolhas contribuam positivamente para o meio ambiente e para a sociedade. Isso inclui selecionar parceiros comprometidos com práticas como o uso de materiais recicláveis, a redução de desperdícios e a minimização das emissões de carbono.

A adoção de critérios ESG (“Environmental, Social and Governance”) na cadeia de suprimentos ou supply chain, é um exemplo claro dessa evolução. Empresas que exigem que os seus fornecedores cumpram padrões de responsabilidade social e de boas práticas, tornando a área de compras um catalisador de transformações sustentáveis. Desta forma, não reduzem apenas os impactos ambientais, como alinham as suas operações aos valores de longo prazo que sustentam as estratégias corporativas.

Para consolidar o seu papel estratégico, as áreas de compras têm investido fortemente na avaliação de desempenho e na melhoria contínua. A monitorização com base em métricas claras e relevantes, permitem não apenas otimizar processos, mas também identificar oportunidades para inovações que gerem valor adicional.

A implementação de processos de melhoria contínua, que visam desde a redução de custos até o alinhamento às metas organizacionais, torna a área de compras uma peça fundamental na promoção de eficiência e na garantia de competitividade. Além disso, ao promover a ética e a sustentabilidade em toda a cadeia de fornecimento, essas práticas também fortalecem o impacto social positivo das organizações.

A digitalização das áreas de compras é uma das maiores forças transformadoras da atualidade. Ferramentas como plataformas de e-procurement e sistemas de gestão integrada (ERP) têm redefinido a forma como as organizações gerem as suas aquisições, proporcionando maior automação e eficiência. Com a desmaterialização de documentos e a melhoria na análise de dados, as empresas conseguem tomar decisões mais ágeis e informadas.

Essa revolução também traz desafios, como a necessidade de formar equipas capacitadas para lidar com novas tecnologias e o de garantir que a digitalização esteja alinhada aos objetivos corporativos. No entanto, os benefícios são claros: maior transparência, eficiência e capacidade de implementar práticas sustentáveis e éticas. Assim, a transformação digital não é apenas uma tendência, mas uma necessidade para as organizações que pretendem liderar em mercados cada vez mais competitivos.

As áreas de compras deixaram de ser meramente operacionais para se tornarem uma função estratégica capaz de impulsionar transformações internas significativas. Seja na procura pela eficiência, na promoção da ética, ou na implementação de práticas sustentáveis, têm-se consolidado como um dos pilares fundamentais das organizações modernas. Alinhar compras a comportamentos éticos e práticas sustentáveis é essencial para garantir que as empresas operem de forma responsável e impactem positivamente a sociedade. Nesse cenário, as áreas de compras tornam-se não apenas um suporte aos objetivos corporativos, mas também um reflexo do compromisso com a inovação, a sustentabilidade e a ética empresarial.