Xiongan é a nova ‘cidade socialista’ sonhada por Xi Jinping: metrópole futurista nasce a 100 km de Pequim

A China de Xi Jinping está a construir uma cidade a 100 quilómetros de Pequim que pretende aliviar o congestionamento na capital: de acordo com o presidente chinês, este é um projeto de “significância milenar” que deve resistir “ao teste da história”.

Xiongan tem crescido a olhos vistos, uma cidade criada do nada e que aspira a ser um protótipo de uma cidade “socialista moderna” – é mesmo um dos projetos mais ambiciosos de Xi Jinping. Concebida como um satélite de Pequim, a nova cidade, sublinhou o jornal espanhol ‘El País’, está a ser erguida numa imensa planície atravessada por rios e zonas húmidas, na província de Hebei.

O seu desenvolvimento foi anunciado em grande estilo em 2017, para se tornar uma válvula de escape da congestionada capital do gigante asiático, onde vivem quase 22 milhões de pessoas – a intenção é incentivar a transferência de empresas e instituições para assim libertar Pequim de funções que não sejam essenciais para o Governo chinês.

Xiongan carrega o selo pessoal de Xi Jinping – o secretário-geral do Partido Comunista Chinês chamou-lhe um “projeto nacional de importância milenar”, que deve ser capaz de “resistir ao teste da história”. O seu planeamento, reiterou, visou aliar tecnologia de ponta e respeito ecológico. “Este é também o legado que a nossa geração de comunistas chineses deixará às gerações futuras”, disse Xi.

Xiongan, aliás, é um acrónimo para dois condados da região e também uma palavra recém-criada composta por dois caracteres: 雄 (Xiong: herói, masculino, força) e 安 (An: paz, calma, estabilidade).

O Governo comparou a sua implementação com dois marcos: Shenzhen, a primeira zona económica especial do país , criada em 1980 numa vila piscatória hoje transformada numa megalópole tecnológica; e Pudong, o distrito financeiro de Xangai com arranha-céus futuristas. Ambos os projetos foram promovidos por Deng Xiaoping, arquiteto do período de abertura e reforma que desencadeou o desenvolvimento chinês.

Em quase sete anos, começaram a ser erguidos mais de 4.000 edifícios nas antigas terras áridas e cidades em ruínas; A área recebeu investimentos superiores a mais de 85 mil milhões de euros: as empresas estatais chinesas estabeleceram mais de 200 subsidiárias e sucursais na área, segundo números divulgados pela comunicação social estatal.

Entre os projetos em construção está um centro de supercomputação (o “cérebro da cidade”) que ajudará a alimentar alguns dos sistemas digitais de Xiongan, incluindo plataformas para gestão do fluxo de tráfego e veículos autónomos. A cidade é também, desde 2021, um campo de testes do yuan digital, apoiado pelo Banco Central Chinês.

Perto está Rongdong, onde se multiplicam blocos habitacionais clonados, há hotéis internacionais, edifícios de escritórios futuristas e um centro comercial com a afluência típica da praça da cidade. Possui cafeteria, cinemas e lojas de marcas de luxo. Esta área, localizada junto a um grande parque, deverá articular a vida residencial, embora muitos dos espaços ainda estejam em construção ou vazios. Neste momento, boa parte dos habitantes são vizinhos realojados, trabalhadores da construção civil ou pessoas como Hu Yan, 36 anos, que trabalha numa empresa de design de interiores responsável por vários projetos. Ele mora durante a semana num dos quarteirões recém-acabados e todos os fins de semana regressa para a capital com a família. Ele acredita que no futuro Xiongan “será como Pequim”.

Há um número em destaque: 2.035. Nessa altura, de acordo com o plano de Pequim, Xiongan “ter-se-á basicamente tornado uma cidade moderna e verde, inteligente e habitável”. Até 2050, as autoridades chinesas esperam que ela seja colocada no mapa das grandes cidades de classe mundial como um protótipo de uma “cidade socialista moderna”.