Vírus mortal representa (nova) “ameaça grave” para a Ucrânia, alertam autoridades de saúde

O Vírus do Nilo Ocidental, transmitido por mosquitos, está a representar uma séria ameaça para a Ucrânia, que já perdeu quase uma dúzia de vidas devido à propagação da doença nos últimos três meses. Ihor Kuzin, vice-ministro da Saúde da Ucrânia e epidemiologista, descreveu a situação como “grave” e alertou que a ameaça continuará a ser significativa, segundo uma entrevista dada ao serviço ucraniano da BBC.

O Vírus do Nilo Ocidental é transmitido a seres humanos através de mosquitos infetados, que contraem o vírus ao picarem aves portadoras da doença. De acordo com os Centros para o Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, a infeção pode provocar sintomas como febre, dores musculares, vómitos, erupções cutâneas, diarreia e dores de cabeça. Embora 80% das pessoas infetadas não apresentem sintomas, cerca de uma em 150 desenvolve uma doença grave ou mesmo fatal.

Entre as complicações mais sérias, encontram-se encefalites e meningites, que podem resultar em danos permanentes no sistema nervoso ou, em casos extremos, levar à morte. O CDC sublinha que as infeções são mais comuns durante o verão e o outono, períodos em que os mosquitos estão mais ativos.

A propagação do vírus na Ucrânia é especialmente preocupante devido à presença de várias rotas de migração de aves que atravessam o país, um fator identificado como um dos principais contribuidores para surtos deste tipo. “Várias rotas migratórias de aves passam pela Ucrânia”, explicou Kuzin, salientando o risco acrescido de transmissão do vírus nestas zonas.

Desde o início de julho, foram registadas 88 infeções e 11 mortes provocadas pelo Vírus do Nilo Ocidental no país. No final de agosto, o Centro de Saúde Pública, gerido pelo Ministério da Saúde ucraniano, revelou que laboratórios confirmaram 41 novos casos da febre do Nilo Ocidental apenas naquele mês.

Na capital, Kiev, 17 pessoas foram internadas no Hospital Clínico de São Miguel com sintomas graves do vírus, entre os quais dez homens e sete mulheres, segundo Valentina Ginzburg, diretora do departamento de saúde da cidade. Infelizmente, três desses pacientes não resistiram, e morreram devido a complicações da doença entre junho e o final de agosto. Os casos envolveram residentes de várias partes de Kiev, assim como das regiões de Cherkasy e Kiev, a sul da capital.

O Ministério da Saúde ucraniano estima que a taxa de mortalidade do Vírus do Nilo Ocidental na Ucrânia esteja entre 2% e 14%, o que demonstra a gravidade potencial da infeção, especialmente em áreas com infraestruturas de saúde já sobrecarregadas devido ao conflito contínuo no país.

Atualmente, não existe uma vacina ou tratamento específico para o Vírus do Nilo Ocidental. Desde a sua descoberta na década de 1930, no Uganda, o vírus tem-se espalhado por várias regiões do mundo, causando surtos localizados e dificuldades na contenção da sua propagação. Este ano, até o proeminente imunologista norte-americano Anthony Fauci contraiu o vírus, tendo sido hospitalizado em Washington D.C., numa altura em que descreveu a doença como uma das experiências mais aterradoras da sua vida. “Nunca me senti tão doente”, confessou Fauci, num texto publicado no The New York Times no início de outubro, no qual relatou o quão debilitante a infeção pode ser.

Perante a gravidade da situação, Kuzin afirmou que é provável que a Ucrânia enfrente surtos ainda mais significativos desta febre nos próximos anos, à medida que o clima e as condições ambientais facilitam a reprodução dos mosquitos portadores do vírus. “Provavelmente teremos de nos habituar ao facto de que esta febre estará presente em maior número na Ucrânia”, alertou.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros especialistas recomendam várias medidas preventivas para reduzir o risco de infeção, entre as quais o uso de roupas protetoras que cubram a pele, a aplicação de repelentes de mosquitos e a colocação de redes de proteção nas janelas, especialmente durante os meses mais quentes. Estas medidas são vistas como essenciais para minimizar o impacto do vírus, uma vez que a sua erradicação total se apresenta como um desafio a longo prazo.

Enquanto a Ucrânia continua a lidar com as consequências devastadoras da guerra, a saúde pública enfrenta agora o adicional e sério desafio do Vírus do Nilo Ocidental, uma ameaça que exige medidas coordenadas e eficazes para limitar a sua propagação.

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