Verão de 2019. Investigadores chineses defendem que covid-19 começou com vaga de calor na Índia
Um grupo de investigadores chineses vieram agora defender que o novo coronavírus poderá ter surgido, não no seu país, mas sim na Índia, ou ainda, numa lista de sete outros países. A equipa de cientistas da Academia Chinesa de Ciências argumenta que uma das hipóteses é o vírus ter surgido no verão de 2019, numa vaga de calor na Índia, país vizinho, “que obrigou pessoas e animais a beber a mesma água”.
No artigo intitulado “A transmissão críptica precoce e a evolução do SARS-CoV-2 em hospedeiros humanos“, os investigadores utilizaram a análise filogenética – um estudo de como um vírus se modifica – para tentar rastrear as origens da covid-19.
Os vírus, como todas as células, mudam à medida que se reproduzem, o que significa que podem ocorrer pequenas alterações no seu ‘ADN’. Os cientistas argumentam que deveria ser possível rastrear a versão original do vírus encontrando a amostra com o menor número de mutações, ou seja, ‘mais puro’.
Neste sentido, afirmam que a utilização deste método exclui o vírus detetado pela primeira vez em Wuhan como o vírus ‘original’, e em vez disso apontam para outros oito países: Bangladesh (na Índia), Estados Unidos, Grécia, Austrália, Itália, República Checa, Rússia ou Sérvia.
Os investigadores argumentam que, como a Índia registou amostras com baixas mutações e como são vizinhos geográficos, é provável que a primeira transmissão tenha ocorrido antes nesse país. Além disso, ao estimar o tempo necessário para que o vírus sofra pelo menos uma mutação, consideram também que o vírus surgiu pela primeira vez em julho ou agosto de 2019.
Vaga de calor na Índia pode ser origem do surto
De maio a junho de 2019, a segunda onda de calor mais longa registada no norte da Índia central e Paquistão criou uma grave crise hídrica. “A escassez de água fez com que animais selvagens lutassem pela água entre si, o que terá aumentado a possibilidade de interações entre humanos e animais”, sugere a investigação.
“Especulámos que a transmissão de animal para humano do SARS-CoV-2 poderá estar associada a esta invulgar onda de calor”. Os investigadores argumentam ainda que o frágil sistema de saúde da Índia e a população jovem – que à partida sofre sintomas menos graves – permitiram que o vírus se espalhasse sem ser detetado durante vários meses.
O vírus poderá ter-se propagado pelos outros países da lista antes de vir para a China, possivelmente através da Europa. Neste sentido, “a pandemia é inevitável e a epidemia de Wuhan é apenas uma parte dela”, concluem.
OMS considera “altamente especulativo” dizer que a covid-19 não surgiu na China
Não é a primeira vez que as autoridades chinesas ‘apontam o dedo’ a outro país. A Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda está à procura da fonte do novo coronavírus na China, uma vez que foi detetado pela primeira vez na cidade de Wuhan, no final do ano passado.
No entanto, considera “altamente especulativo” dizer que o novo coronavírus não teve origem lá. “Uma investigação começa onde surgiram os primeiros casos em humanos”, afirmou o principal especialista em emergências da OMS, Mike Ryan, esta sexta-feira numa conferência de imprensa.