“Vão todos ao beija-mão”: Tomada de posse de Trump é sorvedouro de doações das maiores empresas do mundo (e bate recordes)
A posse presidencial de Donald Trump está a gerar um fluxo inédito de doações por parte de grandes empresas, refletindo um realinhamento das estratégias corporativas em relação ao presidente eleito. Comparado com 2017, quando Trump assumiu o cargo pela primeira vez, as contribuições agora atingem valores recorde, marcando uma nova fase nas relações entre a administração Trump e o setor empresarial norte-americano.
Grandes empresas, de setores como tecnologia, automóveis, banca, saúde e combustíveis fósseis, anunciaram publicamente doações milionárias para o Comité de Investidura Presidencial. Gigantes como Microsoft, Google, Pfizer e Toyota estão entre os que contribuíram, sendo que, em muitos casos, os valores ultrapassaram largamente as doações feitas para eventos inaugurais anteriores. Por exemplo, a Microsoft duplicou o montante que doou em 2017, atingindo um milhão de dólares, enquanto o Google triplicou o seu contributo.
Brian Ballard, angariador de fundos de longa data para Trump, descreveu o ambiente como altamente favorável ao presidente eleito. “O estigma de apoiar Trump que existia há oito anos desapareceu. Atualmente, o setor corporativo está solidamente pró-Trump”, afirmou, citado pelo jornal Político.
A estratégia de anunciar publicamente as contribuições demonstra que as empresas não apenas procuram influenciar a administração, mas também desejam que essa generosidade seja reconhecida. Um porta-voz de uma empresa de cuidados de saúde, sob anonimato, justificou a abordagem: “Todos vão ao beija-mão e estão a tentar agradar à nova administração, na esperança de que seja mais amigável do que a anterior.”
A posição corporativa contrasta com o distanciamento de muitas empresas após a insurreição de 6 de janeiro de 2021, quando várias empresas suspenderam doações políticas em resposta ao papel de Trump nos eventos. No entanto, essas reservas parecem ter desaparecido, mesmo com as promessas de Trump de perdoar manifestantes envolvidos no ataque ao Capitólio e de procurar vingança contra os seus opositores legais.
Entre os principais doadores, destacam-se empresas como Robinhood, que contribuiu com dois milhões de dólares, e os CEOs de empresas tecnológicas como Uber e OpenAI. Apesar do entusiasmo, especialistas em ética e antigos membros de comités inaugurais manifestaram ceticismo sobre como esses fundos serão utilizados, já que grande parte dos custos da cerimónia oficial é suportada pelos cofres públicos.
Craig Holman, da organização Public Citizen, levantou preocupações sobre a transparência: “Não sabemos para onde vai o dinheiro excedente. Pode ser direcionado para negócios de Trump ou para o seu Super PAC, e ele não tem qualquer obrigação de nos informar.”
Falhas de regulamentação e críticas à falta de restrições
Embora o comité inaugural seja obrigado por lei a divulgar os doadores que contribuem com mais de 200 dólares, a ausência de um limite máximo e de restrições sobre contribuições de grupos anónimos, contratantes governamentais ou indivíduos com interesses na administração suscitou críticas. A deputada Mary Scanlon, do Partido Democrata, reintroduziu um projeto de lei para estabelecer limites e garantir maior transparência, mas reconheceu a dificuldade de avançar com a proposta no atual cenário político dominado pelos republicanos.
“Estas contribuições representam uma oportunidade para doadores com grandes recursos financeiros comprarem influência junto do presidente”, afirmou Scanlon. Segundo ela, esse tipo de financiamento é ainda mais problemático do que as doações de campanha, uma vez que os pagamentos são feitos quando o resultado eleitoral já está definido, tornando a prática “uma oportunidade clara para corrupção”.
Entretanto, membros do círculo próximo de Trump já sinalizaram que irão considerar o histórico de empresas na certificação da eleição de 2020 ao avaliar pedidos de reuniões com agências federais. Um lobista republicano revelou que empresas que suspenderam fundos em 2020 podem encontrar dificuldades para obter acesso à nova administração.
O Congresso também levantou preocupações sobre a origem dos fundos, pedindo esclarecimentos ao comité inaugural sobre os critérios para aceitar doações e evitar violações legais, como contribuições de estrangeiros. Em 2021, o comité inaugural de Trump enfrentou escândalos relacionados com quase um milhão de dólares recebidos de um investidor paquistanês posteriormente acusado de crimes financeiros e lobby ilegal.
Apesar das críticas, Trump não anunciou quaisquer restrições aos tipos de doadores, em contraste com administrações anteriores. Em 2009, Barack Obama recusou doações corporativas para a sua posse, enquanto Joe Biden impôs limites de um milhão de dólares por contribuição e excluiu doações de lobistas e da indústria de combustíveis fósseis.