“Vão para casa”: habitantes de várias cidades europeias estão a lutar contra o turismo excessivo

O turismo desenfreado está a deixar muitas cidades ‘com os cabelos em pé’: que o digam os habitantes de Málaga, um dos destinos mais populares de Espanha, que estão a dizer basta – os locais, frustrados com o crescente afluxo de turistas, não escondem a sua revolta e espalharam no centro da cidade cartazes, afixados nas portas e paredes, com frases exemplificativas dos sentimentos para com os turistas.

As frases vão desde o mais suave – “esta era a minha casa”, por exemplo, ou “este costumava ser o centro da cidade” – até ao mais agressivo “está a feder a turista” ou “vai para a p*** da tua casa”.

A cidade da Costa del Sol é há muito tempo um destino popular para os visitantes, graças ao seu clima ensolarado e ao custo de vida relativamente baixo. No entanto, tornou-se recentemente um destino ainda mais desejável para turistas e nómadas digitais, o que deixou fartos muitos moradores locais.

Dani Drunko, proprietário de um bar muito frequentado em Málaga chamado ‘Drunkorama’, iniciou a ‘moda dos cartazes’, com frases anti-turísticas por toda a cidade. Em declarações ao jornal local ‘Diario Sur’, Drunko explicou que começou a campanha depois de alegadamente ter sido expulso da casa onde viveu durante uma década – alegou que o proprietário se recusou a negociar o arrendamento ou sequer vender-lhe o imóvel. O motivo? Queria transformá-lo num alojamento de curto prazo para turistas.

“Há muito entusiasmo porque os moradores locais estão cansados da situação. Apenas sugeri a ideia das frases, ofereci a faísca e agora outros aderiram”, disse Drunko ao ‘Diario Sur’. “O centro da cidade de Málaga está em declínio há muito tempo, tanto que se por exemplo se alguma coisa se partir no meu bar, não tenho uma loja de ferragens à mão para comprar o que seja. Os turistas não precisam de comprar parafusos”, indicou.

Já o político local Dani Pérez, numa mensagem na rede social ‘X’, indicou que andar “pelas ruas de Málaga e é praticamente impossível encontrar um prédio residencial que não tenha um AL”, acusando o autarca da cidade, Paco de la Torre, de “não levantar um dedo para o povo de Málaga e expulsá-los da cidade onde nasceram”.

Em 2023, a Costa del Sol, onde fica Málaga, recebeu um número recorde de 14 milhões de turistas – de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística espanhol, oito em cada 10 novos residentes em Málaga são estrangeiros. Mas não são só pessoas: cerca de 630 empresas tecnológicas, incluindo a Google, abriram escritórios em Málaga, quase transformando-a na ‘Silicon Valley’ da Europa, o que atraiu milhares de nómadas digitais, seduzidos pela combinação entre ambiente de trabalho agradável e um clima quente.

Málaga está muito longe de ser a única cidade a dizer “basta” ao turismo: nas Ilhas Canárias (Espanha), surgiram pichagens a ordenar aos turistas que “voltassem para casa”. Numa das ilhas mais populares, Tenerife, foi declarado recentemente uma emergência hídrica, o que extremou mais a tensão, uma vez que algumas áreas turísticas utilizam até seis vezes mais água do que áreas residenciais.

Na vizinha Gran Canaria, surgiram mensagens como “turistas e nómadas digitais, vão para casa”, um fenómeno que o jornal ‘Canarian Weekly’ descreveu como “turismofobia”. Em Maiorca, os residentes colocaram cartazes falsos em algumas praias, como “cuidado com as medusas perigosas” ou “cuidado, pedras que caem”.

O fenómeno estende-se pela Europa: muitas cidades europeias, incluindo Veneza, criaram taxas turísticas. Em Amesterdão, as autoridades e os habitantes locais têm tentado durante meses encorajar turistas bêbados a permanecer longe – em Quioto, no Japão, foram fechadas estradas para garantir que a cidade não se transformasse num “parque temático”.

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