Vamos ter falta de gás? Frio cria uma “bomba relógio” capaz de afetar o abastecimento na Europa

À medida que a Europa atravessa um inverno particularmente frio, as tensões no mercado de gás aumentam. Após dois anos de temperaturas mais amenas que reduziram a procura energética, o continente enfrenta agora um clima mais rigoroso, o que levou os preços do gás a disparar e as reservas da União Europeia (UE) a cair a pique.

Em cidades como Madrid, onde esta semana se registaram temperaturas mínimas de nove graus, espera-se que as temperaturas desçam até aos -7 graus nos próximos dias, enquanto países como a Áustria antecipam valores de até -15 graus. Esta vaga de frio inesperada surge num contexto de mercado de gás já pressionado por vários fatores, como conta o ‘elEconomista’.

O preço do gás na Europa, especialmente o negociado na bolsa de Amesterdão (TTF), registou um aumento acentuado, superando os 50 euros por megawatt-hora no início de 2025, um aumento de 50% face ao mesmo período do ano anterior. Embora tenha havido recentemente um ligeiro abrandamento nos preços, estes encontram-se agora nos 47,3 euros, o que representa um incremento significativo nos últimos meses.

Em relação às reservas, os dados da Gas Infrastructure Europe mostram uma queda preocupante nos níveis de armazenamento, que se encontram atualmente a 69% da sua capacidade total, face aos 95% registados em dezembro de 2023. Esta diminuição deve-se a uma temporada de inverno mais exigente e à incapacidade de encher os armazéns com gás com a devida antecedência, devido a vários fatores climáticos.

A situação agrava-se pela queda da produção de energias renováveis, como a energia eólica, devido a um fenómeno meteorológico conhecido como a “calma escura”, revela a mesma fonte. A falta de vento e sol obrigou muitos países europeus a depender ainda mais do gás para suprir as suas necessidades energéticas, o que gerou um défice que só pode ser coberto através da importação de Gás Natural Liquefeito (GNL), a preços elevados.

Além disso, o corte dos fornecimentos russos através da Ucrânia teve um impacto significativo em países da Europa Central e Oriental, como a Eslováquia, Áustria e Hungria, que ainda dependiam destes envios. Como resultado, estes países tiveram de recorrer a gás mais caro ou reduzir ainda mais as suas reservas, agravando ainda mais a crise.

As perspetivas para o futuro são preocupantes. O Bank of America alerta que, embora os dados sobre o impacto da falta de gás russo ainda não sejam definitivos, a perda deste fornecimento pode gerar um défice de 11 milhões de toneladas métricas de gás, o que pode desencadear uma crise semelhante à de 2022. A S&P Global também sublinha que a Europa pode enfrentar outra guerra de ofertas contra a Ásia no próximo verão, o que elevaria ainda mais os preços e colocaria em risco o abastecimento.