Uma estação de serviço com 2.000 anos? Era aqui que os romanos paravam para trocar cavalos e comer ‘fast food’

Arqueólogos fizeram uma descoberta notável nos Cotswolds, perto de Gloucester, ao encontrar os vestígios de uma antiga estação de serviço romana. Situada ao longo da estrada romana Ermin Street, que ligava Cirencester a Gloucester, no Reino Unido, a estação teria servido viajantes e os seus cavalos há quase dois milénios.

A descoberta foi feita durante escavações realizadas entre 2023 e 2024 pela Oxford Cotswold Archaeology, como parte do projeto A417 Missing Link. Este projeto visa aliviar o congestionamento rodoviário na região através da criação de novas vias e reconfiguração das existentes.

Uma paragem estratégica no império romano
A estação de serviço, conhecida como mutatio no latim romano, foi projetada para funcionar como ponto de apoio a viajantes e aos seus cavalos. Ocupando uma área de aproximadamente oito hectares, acredita-se que tenha estado em funcionamento entre os séculos II e IV d.C.

Alex Thompson, gestor do projeto na Oxford Cotswold Archaeology, explicou a importância da descoberta. “Os romanos podem reivindicar o crédito por muitas inovações, e provavelmente inventaram a ideia formal de uma ‘estação de serviço’, pelo menos na Europa”, afirmou.

A estação teria oferecido serviços essenciais como alimentação, descanso e cuidados para os cavalos, com instalações simples e compactas que incluíam duas divisões principais: uma para os viajantes e outra para os animais.

Evidências de comida e cuidados com cavalos
A análise do local revelou vestígios de fornos romanos primitivos, utilizados possivelmente para preparar pão, carne e até caracóis. Foram também encontrados equipamentos relacionados ao cuidado com cavalos, como arreios e bridões, sugerindo que o local funcionava como uma espécie de estábulo.

“O pão parece ter sido uma oferta básica, dado o número de fornos encontrados, bem como pedras de moinho utilizadas para a produção de farinha”, explicou Thompson. “Análises ambientais em curso poderão fornecer mais informações sobre as culturas cultivadas na área, e os ossos de animais recuperados poderão indicar práticas de talho.”

Entre os artefactos recuperados, destacam-se 460 moedas romanas, 15 broches, 420 quilos de cerâmica e ossos de animais. Um dos objetos mais intrigantes é uma figura de Cupido, moldada em liga de cobre e com cerca de cinco centímetros de altura.

Ed McSloy, gestor de achados da Cotswold Archaeology, descreveu a peça: “Cupido tem asas pequenas e está representado nu, com cabelo encaracolado e um rosto rechonchudo. Segura um objeto que pode ser uma tocha ou um bastão.”

Outros itens incluem um cortador de unhas romano feito de liga de cobre e osso, ilustrando aspetos do quotidiano dos viajantes que por ali passaram.

O contexto romano de Gloucester
A área de Gloucestershire desempenhou um papel central na expansão romana na Grã-Bretanha após a invasão sob o imperador Cláudio em 43 d.C. As estradas construídas pelos romanos, como a Ermin Street, facilitaram a disseminação da sua influência pelo sul de Inglaterra, ligando grandes centros como Cirencester (Corinium Dobunnorum) e Gloucester (Glevum).

Enquanto Gloucester era um importante centro militar, Cirencester destacou-se como a segunda maior cidade romana na Grã-Bretanha, atrás apenas de Londres. A cidade possuía até um anfiteatro romano construído no início do século II, cujos vestígios permanecem visíveis como uma depressão coberta de relva.

A estação de serviço romana descoberta em Gloucester foi apresentada no programa Digging for Britain, da BBC Two, apresentado pela Professora Alice Roberts. Após a exibição, os achados serão catalogados e enviados para museus locais, onde contribuirão para o conhecimento da história da região.

Esta descoberta reforça a herança romana presente na paisagem britânica e sublinha a sofisticação das infraestruturas criadas pelo império há mais de dois mil anos.