Um em cada quatro alunos do Ensino Superior toma medicação psiquiátrica: quase metade tem sintomas depressivos, aponta estudo
Um em cada quatro alunos do Ensino Superior toma medicação psiquiátrica, sendo que quase metade dos estudantes universitários apresenta sintomas depressivos, com pensamentos como “a vida não tem sentido”. De acordo com o semanário ‘Expresso’, a esmagadora maioria (mais de 80%) relatou dificuldade em “relaxar e realizar tarefas”, apontou um estudo da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (ANEP), em parceria com a Ordem dos Psicólogos e o Conselho Nacional da Juventude.
O estudo foi realizado junto de 1.174 estudantes de 53 instituições do ensino superior do país e as conclusões são devastadoras: cerca de 40% dos inquiridos apresentam sintomas psicológicos, sendo os casos moderados (14,1%) os mais frequentes, seguidos dos leves (12,4%) e dos severos ou muito severos (12,3%). “Este dado surpreendeu-nos particularmente e reflete, na minha opinião, a crescente inacessibilidade da psicoterapia no SNS, com listas de espera longas e acompanhamentos demasiado espaçados, levando ao uso de medicação em casos que poderiam ser tratados apenas com recurso a psicoterapia”, apontou Filipa Santos, presidente da ANEP.
Os depressivos são os sintomas prevalentes, que afetam 46% dos inquiridos: a sintomatologia ansiosa abrange 39% e o stress a 31% dos inquiridos: 42% dos inquiridos pensou, pelo menos uma vez, que “a vida não tinha sentido”, havendo casos mais graves de “pensamentos sobre a morte, falta de perspetivas de futuro e a quase desistência perante a vida”, referiu Patrícia Silva, principal autora do estudo.
A pressão académica é quase universal, afetando nove em cada 10 estudantes: cerca de 60% confessaram-se desinteressados das aulas. Esta pressão, indicou Filipa Santos, resulta “de um sistema pedagógico que privilegia resultados rápidos, prazos apertados e competitividade, desvalorizando práticas de aprendizagem contínua e inovadora que poderiam fomentar o bem-estar e a criatividade”.
No entanto, apesar do quadro negro, apenas 20% dos estudantes reprovaram a alguma disciplina no último ano letivo, sendo que mais de metade (56%) apresentou nível elevados de autoeficácia e desempenho académico (53%). “Estes dados revelam como a estrutura das instituições muitas vezes nos condiciona a entregar resultados, mesmo à custa da nossa saúde mental e do bem-estar emocional”, indicou Patrícia Silva. As duas responsáveis, face aos resultados do estudo, defenderam a criação de campanhas nacionais de consciencialização para os estudantes, para “desmistificar estigmas associados à saúde mental e facilitar o acesso aos serviços”.