UE “pronta a negociar” com Trump para aumentar compra de combustíveis norte-americanos
A União Europeia (UE) está preparada para iniciar negociações com os Estados Unidos, em resposta às exigências do presidente Donald Trump para que o bloco compre mais combustível norte-americano. A informação foi confirmada esta terça-feira por Anna-Kaisa Itkonen, porta-voz da Comissão Europeia para a Energia.
“A prioridade é abrir um diálogo, envolver-se cedo, discutir interesses comuns e, posteriormente, estar pronta para negociar”, declarou Itkonen ao jornal Politico.
As declarações da porta-voz surgem poucas horas após a tomada de posse de Trump para o seu segundo mandato presidencial. O presidente norte-americano, recém-empossado, não tardou a pressionar a UE, afirmando aos jornalistas que “a única coisa que podem fazer rapidamente é comprar o nosso petróleo e gás”, ao ser questionado sobre como o bloco poderia evitar tarifas elevadas.
Esta pressão faz parte de uma estratégia mais ampla de Trump para aumentar a produção e exportação de combustíveis fósseis. Logo após reassumir o cargo, o presidente revogou uma suspensão implementada durante a administração Biden, que congelava licenças para novos projetos de perfuração de gás natural liquefeito (GNL).
Discussão aberta sobre GNL
Itkonen alertou, contudo, que a Comissão Europeia não compra nem vende GNL ou quaisquer outros combustíveis diretamente. “Precisamos de estabelecer contacto com eles e ver como avançar”, afirmou. “Mas concretamente, não estamos a começar do zero – tanto a UE como os EUA já têm discutido o GNL ao mais alto nível. O que fizemos ao longo dos anos, do lado da UE, foi assegurar que a infraestrutura de GNL existe para que as empresas possam comprar este GNL.”
Os EUA já são o segundo maior fornecedor de gás da UE e a principal fonte de GNL, resultado da decisão da Rússia de cortar o fornecimento após a sua invasão da Ucrânia. Até agora, em 2025, mais de metade do GNL importado pelos países da UE provém dos Estados Unidos.
Contudo, as importações europeias de GNL russo aumentaram nas últimas semanas, atingindo recordes na primeira quinzena do mês, devido a uma vaga de frio no continente.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já havia expressado apoio à ideia de substituir o gás russo pelo GNL norte-americano. “Por que não substituí-lo pelo GNL americano, que é mais barato para nós e reduz os nossos preços de energia?” questionou em novembro. “É algo que podemos discutir, também no que diz respeito ao nosso défice comercial.”
Apesar disso, o vice-chanceler alemão, Robert Habeck, manifestou dúvidas sobre a capacidade da Alemanha de aumentar significativamente as importações de GNL dos EUA. “Há pouco mais que possamos fazer”, afirmou, mencionando que cerca de 90% das importações de GNL da Alemanha já provêm de fontes norte-americanas.
Habeck sugeriu que, teoricamente, a Alemanha poderia considerar reduzir a compra de gás canalizado da Noruega, mas alertou que isso tornaria “tudo mais caro”. Ele destacou que obrigar as empresas a comprar GNL dos EUA, em vez de onde for mais barato, seria “o oposto de uma economia de mercado”.