Ucrânia: Portugal insiste na ONU que Rússia tem de sair do país e abandonar “táticas medievais”
O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Francisco André, reiterou a hoje posição de Lisboa de que a guerra na Ucrânia só terminará quando a Rússia abandonar o país, com as suas “táticas inaceitáveis, muitas vezes, medievais”.
Um dia depois de discursar na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, Francisco André sustentou, em declarações por telefone à Lusa, que “a Rússia tem de compreender que esta agressão, além de ilegal e injustificável, é atroz e utiliza táticas inaceitáveis, muitas vezes, medievais, como a fome e o sofrimento das populações, com consequências à escala global”, como a recente suspensão unilateral de Moscovo da Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, que permitia exportar alimentos dos portos ucranianos e abastecer os países mais frágeis.
“Portugal condena inquestionavelmente essas atrocidades” e continuará a apoiar Kiev, a vários níveis, incluindo militar e financeiro, além do acolhimento de refugiados (cerca de 60 mil desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022), e a integridade territorial da Ucrânia “sem qualquer margem para dúvida”, afirmou.
“A distância que nós estamos de um processo de paz é o tempo que a Rússia vai levar a terminar imediatamente a sua intervenção militar nos territórios ucranianos”, insistiu, sem conseguir prever quando estarão reunidas essas condições.
Estes encontros nas Nações Unidas, disse Francisco André, são importantes para mobilizar o conjunto da comunidade internacional através dos seus representantes que participam na Assembleia-Geral das Nações Unidas para o apoio à Ucrânia e “para se compreender que esta situação que estamos a viver é inaceitável, porque causa sofrimento, porque destrói infraestruturas, porque tira vidas, e também tem consequências globais que hoje todos reconhecemos como muito negativas nos preços das mercadorias”.
O secretário de Estado mencionou em particular os impactos nos países em desenvolvimento, “que estão sem nenhuma responsabilidade a pagar um preço muito elevado pelas consequências desta agressão russa” e citou o secretário-geral da ONU, António Guterres – com o qual se avistou na terça-feira – quando disse que a suspensão do acordo dos cereais era uma opção para Moscovo, mas os países que estão a sofrer com as consequências desta guerra não têm essa opção e necessitam mesmo deste entendimento.
A Iniciativa de Cereais do mar Negro, envolvendo Rússia, Ucrânia, Turquia e Nações Unidas, entrou em vigor há cerca de umano, tendo sido uma forte aposta de Guterres, e permitiu escoar desde então quase 33 milhões de toneladas de produtos alimentares que estavam retidos nos portos e silos ucranianos.
Eventos como a Assembleia-Geral da ONU servem também, segundo Francisco André, para mobilizar os representantes dos países com posições diversas sobre o conflito, “explicar o que está em causa”, e, prosseguiu, a prova de que esta mensagem tem sucesso é o resultado das votações de uma maioria clara de condenação à invasão por parte das forças de Moscovo.
A propósito, o secretário de Estado descreveu um “relato bastante emotivo” do ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, que leu os diários de três crianças ucranianas “para todos os participantes da Assembleia-Geral poderem ter bem noção de que crianças que deviam estar preocupadas com as suas atividades lúdicas e com a sua educação são hoje vítimas de guerra, que perdem os seus pais, os seus irmãos e têm de lidar com a morte e destruição todos os dias”.
Além da Ucrânia, outros temas levados por Portugal foram o compromisso com a transição digital e com a transição climática.