Ucrânia, Médio Oriente (e muitos mais): Conflitos globais agravaram-se no último ano, mostram dados

O ano de 2024 registou um aumento acentuado na violência política em todo o mundo, com a Palestina e a Ucrânia identificadas como os principais focos de conflito, de acordo com dados da ONG Armed Conflict Location and Event Data (ACLED). Os números revelam um agravamento generalizado dos conflitos globais, afetando diretamente milhões de pessoas e causando perdas humanas sem precedentes.

Segundo o relatório da ACLED, a violência política cresceu 25% em 2024 em comparação com 2023. Estima-se que um em cada oito habitantes do planeta tenha sido exposto a situações de conflito, enquanto o número de mortos ultrapassou os 223 mil. Estes dados apontam ainda para um aumento de duas vezes nos conflitos globais ao longo dos últimos cinco anos.

Um estudo separado do International Institute for International Studies (IIIS) reforça estas conclusões, destacando um aumento de 37% no número de mortos em conflitos armados no ano que terminou em junho de 2024, comparado com o período anterior.

palestina: o país mais afetado pela violência política
A Palestina foi identificada pela ACLED como o país mais afetado por conflitos em 2024, com 81% da população exposta a situações de violência e 35 mil mortes registadas nos últimos 12 meses. A média diária de incidentes nos territórios palestinianos é de 52, segundo a ONG.

Desde o início da guerra entre o Hamas e Israel, em outubro de 2023, as Nações Unidas estimam que mais de 45 mil palestinianos tenham perdido a vida na Faixa de Gaza. A ACLED eleva o total de mortes nos territórios palestinianos — incluindo Cisjordânia e Jerusalém Oriental — para mais de 50 mil.

A organização analisou os conflitos com base em quatro indicadores principais: letalidade, perigo, difusão e fragmentação, concluindo que o Médio Oriente é a região mais afetada globalmente.

Embora a Palestina lidere em termos de frequência e impacto social dos conflitos, a guerra na Ucrânia continua a ser o conflito mais mortífero a nível global. Desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022, a intensidade da guerra mantém-se elevada, com consequências devastadoras para a população local e para a estabilidade internacional.

Globalmente, estima-se que 50 países estejam atualmente envolvidos em conflitos armados. Para além da Palestina e da Ucrânia, a ACLED destaca Myanmar, onde a situação interna permanece instável desde o golpe militar de 2021, como o país com o maior número de grupos armados ativos.

A lista de vigilância de conflitos da ACLED para 2025 aponta para a América Latina, com México e Colômbia, e para a Ásia, com o Paquistão, como regiões particularmente vulneráveis. Em África, o Sudão, o Sahel e a região dos Grandes Lagos figuram entre os principais pontos de preocupação. Outros países como o Irão, Israel, Gaza, Cisjordânia, Líbano e Myanmar continuam a ser classificados como áreas de crise iminente.

A ONU estima que 305 milhões de pessoas necessitarão de assistência humanitária em 2025, com as suas necessidades a serem exacerbadas pelos conflitos e pela violência. Contudo, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais alerta para o subfinanciamento crónico da ajuda humanitária em zonas como Gaza, Myanmar, Sudão e Ucrânia, apesar das obrigações legais de proteger a entrega desta ajuda ao abrigo do direito internacional humanitário.

A escalada da violência política em 2024 sublinha a urgência de intervenções diplomáticas e humanitárias eficazes para mitigar os impactos devastadores dos conflitos armados, proteger populações vulneráveis e evitar crises futuras.