Trump quer para criar reserva estratégica de Bitcoin. Medida pode levar a ‘corrida às criptomoedas’ e a uma viragem na economia global
Com as criptomoedas a ocupar um papel central nas políticas económicas de Donald Trump para o seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, uma das propostas mais controversas é a criação de uma reserva estratégica de bitcoin (REB). Esta iniciativa envolveria a compra massiva de bitcoin pelos EUA nos próximos anos para servir como reserva, de forma semelhante à reserva estratégica de petróleo do país.
A proposta de uma REB suscitou debates entre os seus defensores e cépticos, como o presidente da Reserva Federal, Jerome Powell. As questões políticas centram-se em como uma REB seria implementada e se Trump conseguirá cumprir esta promessa. A principal defensora da REB, a senadora republicana Cynthia Lummis, sugeriu que os EUA adquiram 200.000 bitcoins por ano durante cinco anos. Um primeiro passo mais provável seria designar as cerca de 207.000 bitcoins já detidos pelos EUA como reserva do Tesouro.
Economicamente, um dos principais argumentos a favor da REB é que poderia atuar como um hedge contra a inflação e a desvalorização da moeda. Com um fornecimento fixo de bitcoin, o risco de desvalorização seria limitado, funcionando como uma reserva segura de riqueza, semelhante ao ouro. No entanto, analistas alertam que uma REB poderia minar a confiança no dólar, provocando instabilidade financeira, especialmente se a bitcoin fosse amplamente adotado como moeda de reserva global, assinala o The Conversation.
A volatilidade histórica do preço da bitcoin é uma das preocupações principais. Por exemplo, o preço da bitcoin disparou de cerca de 3.800 dólares no início de 2019 para quase 68.000 dólares em novembro de 2021, antes de perder quase metade do seu valor até janeiro de 2022. Atualmente, o preço está acima dos 95.000 dólares, o que sublinha a sua natureza imprevisível.
Contexto histórico e mudança de ordem económica
Para compreender o impacto potencial da REB, é essencial contextualizar a ascensão das criptomoedas. O sistema dominado pelo dólar estabelecido após a Segunda Guerra Mundial foi desafiado nas últimas décadas pelo crescimento de economias emergentes como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS+), criando um sistema global mais multipolar. Além disso, a descentralização do sistema financeiro e a ascensão do “dinheiro privado” após a crise financeira de 2007-08 têm mudado o cenário económico.
Corrida armamentista às criptmoedas?
Relatórios indicam que outras nações, incluindo Japão, Rússia e China, estão a acumular bitcoin antes de um possível anúncio de REB pelos EUA. Trump sugeriu até mesmo revogar uma regra controversa de contabilidade cripto que permitiria aos bancos deter mais bitcoin. Esta mudança poderia desencadear uma “corrida armamentista” cripto global, com vários países a reforçar as suas reservas de criptomoedas.
Em Portugal, a abordagem à bitcoin tem sido cautelosa, com as autoridades a monitorizar a evolução do mercado cripto e as suas implicações económicas. A União Europeia, por sua vez, tem debatido a regulação das criptomoedas, considerando o impacto potencial no sistema financeiro europeu e global. A proposta de uma REB nos EUA poderá influenciar estas discussões, com a possibilidade de uma resposta coordenada da UE para manter a estabilidade económica e monetária.
As ambições de Trump para uma REB sublinham o crescente papel do “dinheiro privado” na economia mundial. Independentemente de a proposta ser concretizada, as transformações na ordem económica global estão já em curso, com as criptomoedas a desempenharem um papel cada vez mais central.