Transportes públicos, portagens ou carregamentos elétricos: saiba como as mudanças nos preços vão mexer na sua carteira em 2025
Ano novo, preços novos. Todos os anos a história repete-se: a mudança do calendário para um novo ano traz atualizações nos preços. Numa era marcada por uma crise inflacionária, de habitação, social, e também com um cenário geopolítico adverso, vários produtos e serviços vão sofrer mudanças.
Isso mesmo deram conta à ‘Executive Digest’ diversos especialistas contactados, que traçaram um cenário que promete dar algumas dores de cabeça aos portugueses. Saiba aqui tudo o que muda, ou não, de preço no setor dos transportes a partir do dia 1 de janeiro de 2025.
Transportes Públicos e Automóveis
Passes ficam congelados, bilhetes aumentam
Os transportes públicos de passageiros vão aumentar 2,02% em 2025, determinou a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT): mas, como o Orçamento do Estado determinou que o preço dos passes vai continuar congelado, a AMT definiu apenas para os títulos de transporte ocasionais – os que são válidos apenas para uma viagem ou para um período curto e determinado – a aplicação de uma taxa de atualização tarifária de 6,43% com base nos dados do Instituto Nacional de Estatística.
Ou seja, nem todos variam da mesma forma.
O preço do passe Navegante e dos bilhetes ocasionais dos transportes na Área Metropolitana de Lisboa vai manter-se inalterado no próximo ano. Também os bilhetes ocasionais da Carris Metropolitana, nomeadamente aqueles que são comprados no autocarro ao motorista, não vão ter aumento. No entanto, a decisão do Conselho Metropolitano de Lisboa não vincula os tarifários de outros operadores com gestão autónoma, como a Carris, a CP e o Metropolitano de Lisboa.
Assim, o passe municipal continuará a custar 30 euros e o metropolitano 40 euros. O título Navegante + 65 mantém a tarifa mensal de 20 euros. Os municipais e metropolitano família continuarão a custar 60 e 80 euros, respetivamente.
Relativamente aos títulos ocasionais, os preços vão sofrer alterações a partir de 1 de janeiro de 2025, para os seguintes valores:
Bilhete Carris/Metro: 1,85€ (mais 5 cêntimos)
Zapping: 1,66€ (mais 5 cêntimos)
Cartão Bancário: 1,85€ (mais 5 cêntimos)
Viva Go: 1,85€ (mais 5 cêntimos)
Bilhetes diários (24h):
Carris/Metro: 7,00€ (mais 20 cêntimos)
Carris/Metro/Transtejo (Cacilhas): 10,00€ (mais 20 cêntimos)
Carris/Metro/CP: 11,00€ (mais 20 cêntimos).
Os bilhetes dos comboios da Fertagus, utilizados para realizar a ligação entre Setúbal e Lisboa, vão subir no início do próximo ano. A decisão foi tomada pela companhia, depois de a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes ter anunciado, a 31 de outubro, um pequeno aumento da taxa de atualização tarifária.
Esta alteração vai fazer com que os preços dos bilhetes simples, pré-comprados e nos parques de estacionamento da Fertagus, subam 2,02%, o que se traduz num acréscimo de 12 cêntimos num bilhete normal da estação de Setúbal até Lisboa.
No Porto, os preços dos passes e bilhetes ocasionais Andante, utilizados na Área Metropolitana do Porto, vão manter-se em 2025, havendo apenas um aumento nos bilhetes de bordo da rede Unir.
Assim, os passes Andante municipais continuarão a custar 30 euros, os metropolitanos 40 euros e os bilhetes ocasionais Andante Z2 1,4 euros, os Z3 1,8 euros e Z4 2,25 euros, mantendo-se o restante tarifário para distâncias maiores. Quanto ao bilhete de bordo da Unir, aumenta de 2,2 euros para 2,3 nas distâncias mais pequenas, de 4,4 para 4,6 nas intermédias e de 6,6 para 6,9 euros nas mais longas.
Táxis à espera de novas regras
O setor dos táxis entra em 2025 em suspenso: isto porque “para já, ainda não qualquer resposta do Governo”, revelou à ‘Executive Digest’ Florêncio Almeida, responsável da ANTRAL – Associação Nacional dos Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros. “Estamos a falar do aumento do sistema tarifário, que pode trazer coisas boas”, indicou. No entanto, “as negociações ainda não se iniciaram. Mas em princípio, vai ser todo alterado em 2025”.
O que está em causa?
A proposta de simplificação do tarifário dos táxis foi colocada em consulta pública até final de outubro e prevê bandeirada mais baixa e tarifas especiais em época baixa e alta, segundo a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT).
A lei dava à AMT, regulador dos transportes, o prazo de um ano para estabelecer em regulamento as regras gerais de formação dos preços em função dos tipos de serviço, tendo em conta os princípios de recuperação económica e financeira dos custos de serviço em cenário de eficiência e da promoção da acessibilidade.
Segundo o regulamento, a proposta de modelo tarifário considera a modalidade de aplicação dupla da tarifa, na qual o cálculo da importância a pagar implica a aplicação simultânea da tarifa por tempo e da tarifa por distância em toda a corrida.
Assim, o valor da viagem será considerado através do valor da bandeirada, que passará para dois euros, contra os 3,25 euros atuais, mais o preço por quilómetro e o preço por hora, que varia consoante o dia do ano e o período do dia.
Prevê-se também a criação de um tarifário que considera que nos dias feriados e datas festivas como o Natal, Ano Novo e feriado municipal, existe lugar a “um agravamento do preço por tempo de viagem”, além de tarifas sazonais, nas regiões com forte atração turística.
A proposta prevê ainda a eliminação dos suplementos atuais (bagagem e transporte de animais, atualmente de 1,6 euros), mantendo-se o de reserva/chamada (80 cêntimos), sugerindo que sejam adotados “valores mais reduzidos quando a reserva é feita através de plataformas digitais”.
Portagens? Há boas e más notícias
Começando pelas boas: a partir do dia 1 de janeiro, ficam eliminadas as taxas de portagem nos lanços e sublanços das autoestradas do Interior e em vias onde não existam alternativas.
A lei – aprovada em votação final global em junho, com os votos favoráveis do PS, Chega, BE, PCP, Livre e PAN, com a abstenção da IL e contra do PSD e CDS – elimina as taxas de portagem cobradas aos utilizadores em determinados lanços e sublanços de autoestradas do Interior, de antigas autoestradas sem custos para o utilizador (SCUT), e de vias onde não existam alternativas que permitam um uso com qualidade e segurança.
Assim, serão eliminadas nessa data as taxas de portagem cobradas aos utilizadores nos lanços e sublanços das seguintes autoestradas:
A4 – Transmontana e Túnel do Marão;
A13 e A13-1 – Pinhal Interior;
A22 – Algarve;
A23 – Beira Interior;
A24 – Interior Norte;
A25 – Beiras Litoral e Alta;
A28 – Litoral Norte, nos troços entre Esposende e Antas, e entre Neiva e Darque.
Segundo o relatório do Orçamento do Estado para 2025, a abolição do pagamento em várias autoestradas vai significar uma perda de receita significativa.
Com a “eliminação das taxas de portagem nos lanços e sublanços de determinadas autoestradas do interior e onde não existam vias alternativas que permitam um uso em qualidade e segurança”, explica o documento, estima-se que o impacto nas receitas seja de “180 milhões de euros”.
Agora as más notícias: as portagens em Portugal deverão aumentar cerca de 2,23% em 2025, conforme os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Este aumento resulta da taxa de inflação homóloga sem habitação no continente, fixada em 2,11%, acrescida de 0,1% estabelecidos no acordo de 2022 para compensar os limites impostos ao aumento das portagens nesse ano.
As portagens nas autoestradas concessionadas à Brisa aumentam 2,21% a partir de janeiro, uma atualização que incide sobre 52 das 93 taxas aplicadas na classe 1, acrescentando a empresa que prevê investir 64 milhões de euros na rede. No caso do percurso Lisboa-Porto pela A1, o preço das portagens para a classe 1 sobe 70 cêntimos e passa a custar 24,6 euros, segundo o comunicado da concessionária. E o percurso Lisboa-Algarve, pela A2, vai custar mais 60 cêntimos, para 23,3 euros. No percurso Marateca-CaiaA2/A6a atualização será de 35 cêntimos para 15,05 euros. Já No nos principais percursos urbanos, o troço A4 Porto-Amarante vai custar mais 25 cêntimos e na A3 Porto-Valença, a subida será de 20 cêntimos.
Para quem circula para Lisboa, a portagem em ambas as pontes, 25 de Abril e Vasco da Gama, terá um aumento de 5 cêntimos – assim, a classe 1 vai passar a pagar 2,15 € na Ponte 25 de Abril e 3,25 € na Ponte Vasco da Gama.
A classe 2 terá um aumento de 10 cêntimos na Ponte 25 de Abril, e de 15 cêntimos na Ponte Vasco da Gama (4,7 e 7,3 euros, respetivamente); e a classe 3 terá um aumento de 10 cêntimos na Ponte 25 de Abril e de 20 cêntimos na Ponte Vasco da Gama (6,3 e 10,75 euros, respetivamente). Por último, a classe 4, com um aumento de 15 cêntimos na Ponte 25 de Abril, e de 25 cêntimos na Ponte Vasco da Gama (8,2 e 13,8 euros, respetivamente).
Via Verde: mensalidades sobem
A Via Verde anunciou um aumento dos preços, passando as mensalidades das modalidades “Mobilidade” e “Mobilidade Leve” de 1,14 euros e 1,43 euros, respetivamente, para 1,25 euros e 1,59 euros. Já a modalidade de subscrição “Autoestrada” passa de um valor mensal de 0,52 euros para 0,53 euros.
Estes valores pressupõem um desconto promocional que implica a adesão ao extrato eletrónico, sendo mais elevados caso o cliente prefira receber o extrato em papel.
No que se refere à modalidade de compra do identificador, os preços vão manter-se em 2025: 45 euros ou 37,5 euros com desconto promocional por adesão ao extrato eletrónico.
Combustíveis sobem ou descem?
O “preço dos combustíveis a 1 de janeiro vai ser igual a 31 de dezembro”, prometeu Joaquim Miranda Sarmento, ministro de Estado e das Finanças. Ou seja, o Governo vai compensar o aumento da taxa do imposto sobre os produtos petrolíferos (ISP) em 2025, com a descida da taxa de carbono – que nesta altura representa uma redução de 16,3 cêntimos por litro na gasolina 95 e de 15,1 cêntimos por litro no gasóleo: como tal, garante o Governo, não haverá um aumento da carga fiscal no próximo ano.
“Vamos fazer uma recomposição do ‘mix’ fiscal dos combustíveis. Vamos usar a descida da taxa de carbono para fazer uma parte da reversão do desconto do ISP. No dia 1 de janeiro os portugueses terão o mesmo valor de imposto sobre os combustíveis e o mesmo preço”, indicou o ministro.
“A 1 de janeiro, a alteração será neutra do ponto de vista dos preços e da carga fiscal. Os portugueses não pagarão mais impostos nos combustíveis, haverá uma composição diferente na tributação sobre os combustíveis”, justificou. “Não haverá um agravamento da carga fiscal, mas também não haverá perda de receita fiscal.”
Opinião diferente tem José Rodrigues, vice-presidente da ANAREC, que garante que os preços dos combustíveis vão aumentar no próximo ano, devido ao agravamento da carga fiscal que consta na proposta de Orçamento do Estado para 2025. O responsável salientou que se “prevê uma penalização do preço dos combustíveis, pelo que se conhece do OE2025, um agravamento dos impostos sobre os combustíveis em 22%”.
“Em termos absolutos, estamos a falar de 650 milhões de euros” a mais, apontou José Rodrigues, salientando que o “imposto de produtos petrolíferos é o segundo maior indireto da receita fiscal portuguesa”. “Prevê-se que o ISP (Imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos) irá representar 4,2 mil milhões de euros em 2025”, concluiu.
Carregar um veículo elétrico vai ficar (muito) mais barato
A partir de 1 de janeiro, a tarifa da Entidade Gestora da Rede de Mobilidade Elétrica (EGME), gerida pela MOBI.E, será reduzida em 37,1% para os Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME) e Operadores de Pontos de Carregamento (OPC). Já os Detentores de Pontos de Carregamento (DPC) beneficiarão de uma redução ainda mais expressiva, de 61,7%.
A decisão foi anunciada a 16 de dezembro pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE).
No próximo ano, a tarifa EGME por carregamento na rede nacional será de 0,1572€, significativamente inferior aos 0,2499€ cobrados em 2024. Para os DPCs, a tarifa diária passará de 0,0423€ para 0,0162€. Segundo a ERSE, esta descida deve-se, principalmente, ao aumento esperado no número de carregamentos em 2025 e à gestão eficiente dos custos da EGME.
As tarifas EGME cobrem os custos regulados da rede de mobilidade elétrica, como o funcionamento da plataforma que permite aos Utilizadores de Veículos Elétricos (UVEs) aceder a qualquer ponto de carregamento com um único meio de acesso e consultar informações em tempo real. Apesar de não serem aplicadas diretamente aos UVEs, estas tarifas têm impacto nos preços finais, variando entre 4,5% e 5,5% para um carregamento médio de 9,5 kWh, dependendo da tensão utilizada.
Para o presidente da MOBI.E, Luís Barroso, “esta redução é o reflexo do esforço da MOBI.E em aumentar a sua eficiência, bem como o resultado da consolidação e franco crescimento da mobilidade elétrica em Portugal e permitirá dar ao mercado uma maior folga, para que se torne ainda mais competitivo, ajudando a acelerar a transição energética da mobilidade no nosso país.”
As tarifas EGME são definidas anualmente pela ERSE, com base em critérios como custos operacionais e volume de carregamentos, assegurando a sustentabilidade da rede.
A EDP Comercial anunciou igualmente que vai voltar a reduzir os preços da energia carregada pelos utilizadores do Cartão EDP Charge (CEME) na via pública. Tendo em conta a evolução favorável dos mercados de energia, os preços da eletricidade carregada vão ser reduzidos, em média, em 5%, com efeito a partir de 1 de janeiro de 2025, para os mais de 90 mil utilizadores de cartões CEME ativos atualmente – a EDP Comercial já tem contratados e/ou em operação em Portugal mais de 3.400 pontos de carregamento elétrico.
ISV E IUC sem alterações
Se está a pensar em comprar um carro, saiba que tanto o imposto sobre veículos (ISV) quer o imposto único de circulação (IUC) não sofreram alterações no Orçamento do Estado para 2025: a única alteração é o alargamento da taxa intermédia do ISV nos usados importados provenientes de países da União Europeia (UE).
Ou seja, os veículos usados que chegam a Portugal de países da União Europeia vão passar a ter um tratamento igual ao que é dado aos carros novos que são matriculados no país pela primeira vez – assim, coloca-se um ponto final a um tratamento considerado discriminatório em tribunal e que o Tribunal de Justiça da União Europeia também já disse que favorece a venda de veículos usados nacionais e desencoraja a importação de veículos usados similares.
A proposta prevê que beneficiem de uma taxa intermédia de 25% os ligeiros de passageiros híbridos “plug-in” matriculados entre 1 de janeiro de 2015 e 31 de dezembro de 2020, desde que tenham uma autonomia mínima no modo elétrico de 25 quilómetros (em vez dos atuais 50 quilómetros) – ou seja, um automóvel que tenha autonomia em modo elétrico de por exemplo 30 quilómetros irá pagar muito menos ISV.
Essas alterações não afetam só os veículos híbridos plug-in, com também automóveis a combustão: com as novas regras que irão entrar em vigor a 1 de janeiro, deixa de haver duas tabelas de desvalorização dos automóveis consoante a idade, uma para a componente da cilindrada e outra para a componente ambiental. Passa a haver uma tabela única. Assim, o valor do ISV a pagar será menor no próximo ano.