Falta de professores afeta sobretudo Lisboa, Beja, Faro e Setúbal: há 21 disciplinas sem docentes disponíveis e 47.800 alunos em risco de começar ano letivo sem aulas

Se as aulas começassem hoje, haveria 48 mil alunos sem professor: em várias zonas do país, há 21 disciplinas sem docentes disponíveis, sobretudo em Informática, Português, Línguas Estrangeiras e Matemática, sendo que Lisboa, Beja, Faro e Setúbal lideram os pedidos de horários em Oferta de Escola na plataforma do Ministério da Educação, depois de não ter havido no concurso nacional docentes candidatos a essas vagas, avança esta quinta-feira o ‘Diário de Notícias’.

A situação para este ano letivo é pior e não ficou circunscrita ao sul do país, alastrando-se a quase todas as regiões: Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Leiria, Lisboa, Portalegre, Santarém e Viana do Castelo têm escolas com horários por atribuir. A situação é “mais complicada” este ano, reconhece Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). “Há mais horários a concurso e as coisas estão piores do que no ano passado.”

“Vai perdurar a nuvem cinzenta da escassez de professores. O Governo implementou 15 medidas para mitigar o problema e é de louvar que não tenha enterrado a cabeça na areia. Mas é preciso perceber se vão ter efeito, porque dependem da adesão dos professores. Já tinha avisado que o objetivo do ministro da Educação em reduzir em 90% o número de alunos sem aulas até dezembro é muito ambicioso. Vai haver falta de professores e só por milagre se começam as aulas com todos os alunos a ter todos os docentes”, apontou o responsável.

O Governo pretende lançar um concurso extraordinário, cujos moldes vão ser discutidos com os sindicatos. No entanto, pode não chegar, alerta Filinto Lima. Acima de tudo, refere, são precisos “apoios efetivos reais na deslocação e alojamento de professores para que estes estejam dispostos a lecionar a centenas de quilómetros das suas residências”. “Não temos professores. O Governo pode fazer os concursos extraordinários que quiser, mas sem apoio de nada serve”, relatou, lamentando que os docentes do norte do país preferem mudar de profissão a ter de dar aulas no sul.

Davide Matins, professor e um dos colaboradores do blog ArLindo, referiu estarem a concurso 444 horários em Oferta de Escola. Sem se contabilizar o Ensino Artístico, reduz-se para 326 horários. “No ano passado tínhamos 265 horários a concurso a 31 de agosto. Este ano temos mais, sendo Informática, Geografia e Português os três grupos que se destacam”, anotou. Relativamente ao número de horas, “são 7.172. Considerando que, em média, cada disciplina tem três horas por semana e 20 alunos por turma, seriam 47.800 alunos sem aulas se a escola começasse agora”. O número, porém, deve aumentar, pois os horários a preencher “são todos completos e anuais”. “Ainda não foram lançados os horários incompletos e os temporários. Acredito que não veremos uma melhoria significativa relativamente ao ano passado. As medidas propostas pelo ministro já se previa que tivessem este resultado. Tenho dúvidas que doutorados e reformados queiram, neste momento, vir para o ensino nestas regiões”.