“Terroristas e extremistas”: Rússia quer advogados de Navalny condenados a penas de até seis anos de prisão

As autoridades russas pediram penas de prisão de quase seis anos para três advogados que representaram Alexei Navalny, opositor declarado do Kremlin e falecido em fevereiro numa colónia penal no Ártico. Segundo Ivan Zhdanov, aliado próximo de Navalny, os advogados Vadim Kobzev, Igor Sergunin e Alexei Liptser enfrentam acusações de participação numa organização extremista, estando sob custódia desde outubro de 2023.

Os três advogados foram adicionados, em novembro, a uma lista oficial de “terroristas e extremistas” pelo governo russo. De acordo com os promotores, os advogados são acusados de transmitir informações entre Navalny e o exterior enquanto ele estava preso.

Alexei Navalny, condenado por extremismo e outras acusações que sempre negou, morreu subitamente aos 47 anos, oficialmente devido a problemas cardíacos, uma explicação que a sua família rejeita. Desde a sua morte, a repressão às suas redes de apoio tem-se intensificado.

Zhdanov revelou através do Telegram que os procuradores solicitaram penas em colónias penais de 5 anos e 11 meses para Kobzev, 5 anos e 10 meses para Liptser e 5 anos e 6 meses para Sergunin.

O julgamento decorre à porta fechada, justificado pelos promotores como necessário para garantir a segurança. A decisão final do tribunal é esperada em breve.

Reação de Yulia Navalnaya

Yulia Navalnaya, viúva de Alexei Navalny e uma figura de destaque na oposição ao regime de Vladimir Putin, denunciou as acusações contra os advogados num vídeo publicado no YouTube.

“Estes homens são prisioneiros políticos. Não cometeram qualquer crime. Estão presos por fazerem o seu trabalho, que é aquilo que qualquer advogado deve fazer: preparar estratégias de defesa, discutir questões de detenção, apresentar queixas e interpor ações judiciais”, afirmou.

Organizações de direitos humanos alertam que este caso representa um novo nível de repressão na Rússia, onde advogados que defendem opositores ao governo e críticos da guerra na Ucrânia estão a ser perseguidos.

Apesar de estar preso, Navalny utilizava os seus advogados para manter uma voz ativa na oposição, publicando mensagens nas redes sociais e apresentando queixas legais sobre as condições da sua detenção.

Yulia Navalnaya afirmou no vídeo que as reuniões entre Navalny e os seus advogados na prisão foram secretamente gravadas pelas autoridades, em violação do direito de confidencialidade entre advogado e cliente. Estas gravações, alegadamente obtidas por membros da equipa de Navalny através de uma recompensa, foram divulgadas como prova da repressão estatal.

Yulia Navalnaya continua a acusar Vladimir Putin de ser responsável pela morte do marido, embora ainda não tenha apresentado provas concretas. Num vídeo recente, afirmou saber que “o momento do assassinato de Alexei” foi captado por câmaras de vigilância e ofereceu 10 milhões de rublos (cerca de 97.500 dólares) por imagens que confirmem o ocorrido.

As autoridades russas notificaram a família de Navalny em agosto, concluindo que a morte resultou de um “conjunto de doenças” que causaram um aumento crítico da pressão arterial e uma arritmia fatal. Navalnaya rejeitou esta versão, sublinhando que o marido nunca teve problemas cardíacos.

Desde a morte de Alexei Navalny, Yulia Navalnaya tornou-se uma das principais figuras na oposição ao Kremlin. Em exílio no estrangeiro, tem apelado por uma Rússia livre e democrática, sem Vladimir Putin no poder.

Enquanto o Kremlin nega qualquer envolvimento na morte de Navalny e evita comentar casos individuais, continua a retratar os seus apoiantes como traidores financiados pelo Ocidente com o objetivo de desestabilizar o país.