Tem uma constipação que parece não acabar? Especialista explica porquê
Depois três anos de pandemia da Covid-19, e num inverno já com praticamente todas as restrições levantadas, em todo o mundo, registaram-se em vários pontos do globo, igualmente em Portugal, um crescimento exponencial de casos de gripe.
Os efeitos sentiram-se nos serviços hospitalares, com mais pessoas a queixarem-se de sintomas mais graves ou casos de gripe mais severos do que o habitual. Chris Smith, médico, virologista e professor na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, recorda que, no país, na altura do Natal, o laboratório registava que uma em cada quatro amostras recolhidas na população testava positivo à gripe, muito acima do que seria considerado “um ano normal.
“Foi um contraste com as duas anteriores épocas da gripe, quando tínhamos poucos ou nenhuns casos, e este ano temos um gráfico que parece o Evereste”, aponta o especialista ao Telegraph.
A fase mais grave parece já ter passado, quer para a gripe, quer para a Covid-19, que também registou um aumento de casos na época festiva, mas fica a descoberto a imagem real do que o isolamento pandémico fez à imunidade populacional face a vírus respiratórios. Também ilustra bem a explicação do porquê de mesmo quem este ano escapou à gripe, talvez não tenha escapado a uma valente constipação, talvez das mais fortes que alguma vez teve.
“A gripe é como o nosso canário numa mina de carvão. É uma das doenças que acompanhamos e medimos de perto, para acompanhar o ritmo a que o vírus está a evoluir. Assim, um aumento enorme de casos de gripe, também aponta para um grande aumento de outras doenças que podemos apanhar semelhantes, vírus respiratórios como a influenza, coronavírus e rinovírus, que são altamente infeciosos e causa constipações debilitantes”, explica o especialista.
Ao mesmo tempo, com o voltar da normalidade ao dia-a-dia, quando vamos ao cinema, a lojas, andamos de transportes ou vamos a um evento, estamos a voltar a encontrar antigos ‘inimigos virais’ que o organismo combate e vence, resultando num reforço imunitário, para esse e outros agentes que possamos vir a encontrar.
O mesmo acontece com a gripe. Mesmo que ache que não tenha tido, porque não teve sintomas particularmente graves, pode ter tido uma infeção ligeira, atenuada por um sistema imunitário “bem treinado” ou anterior contacto com o vírus.
Quando a Covid-19 levou a confinamentos e isolamentos, a disseminação de outros vírus e infeções foi travada, pelo que o organismo deixou de estar tão exposto a estes agentes e, por isso, perdendo ‘treino’.
“Agora desenvolvemos algum nível de amnésia imune para algumas das infeções para as quais levámos uma vida a aprender a combate-las”, aponta Chris Smith.
A consequência deste “défice imunitário” é, agora, que doenças que anteriormente o nosso organismo combatia sem problema, agora revelam-se mais difíceis e produzem sintomas mais intensos.
“Podem surgir várias infeções impiedosas, ligeiras ou com alguns sintomas, vão levar a que pensamos que seja a mesma tosse ou constipação há várias semanas. Algumas pessoas até vão achar que têm Covid longa, mesmo que não seja isso”, clarifica o especialista.
Assim, os efeitos mais sentidos de vírus e infeções respiratórias devem-se à ‘reeducação’ e ‘reaprendizagem’ do organismo a lidar com agentes aos quais já não está habituado, para que os volte a neutralizar com maior facilidade.