Sr. passageiro, aperte o cinto: Estas são as rotas aéreas na Europa com mais turbulência (e há um país que vai querer evitar)
O ano passado registou um aumento significativo no número de relatos de turbulência em voos comerciais, incluindo alguns casos graves que acabaram nas notícias. Entre os incidentes mais aparatosos, conta-se o de um voo da Singapore Airlines em que um passageiro perdeu a vida, o primeiro óbito causado por turbulência desde 1997.
Embora se trate de um caso extremo, este episódio voltou a catapultar o tema para o centro das atenções, numa recordação de que a turbulência é a principal causa de ferimentos em voos comerciais. Segundo dados da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA), entre 2009 e 2023, 37 passageiros e 146 tripulantes sofreram ferimentos graves relacionados com turbulência.
As rotas mais turbulentas da Europa
Uma nova investigação do site de monitorização de turbulência Turbli identificou as rotas aéreas mais turbulentas da Europa. O estudo utilizou a taxa de dissipação de redemoinhos (Eddy Dissipation Rate – EDR), uma métrica padrão reconhecida pela Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO) e pela Organização Meteorológica Mundial (WMO).
Oito das dez rotas mais turbulentas da Europa começam ou terminam na Suíça, com muitas delas a sobrevoarem os Alpes. As rotas mais afetadas foram:
- Nice – Genebra: EDR 16.07
- Nice – Zurique: 15.49
- Milão – Zurique: 15.41
- Milão – Lyon: 15.37
- Nice – Basileia: 15.33
- Genebra – Zurique: 15.05
- Nice – Lyon: 14.99
- Genebra – Veneza: 14.78
- Lyon – Zurique: 14.74
- Veneza – Zurique: 14.67
Apesar destes valores, todas as rotas registaram um nível de turbulência classificado como “leve” (EDR abaixo de 20). Incidentes moderados (EDR entre 20 e 40) ou extremos (EDR acima de 80) são raros em médias anuais na Europa.
No entanto, as rotas mais turbulentas do mundo encontram-se na América do Sul, sobre os Andes. A rota Mendoza-Santiago liderou com um EDR de 24.68, seguida por Córdoba-Santiago e Mendoza-Salta.
Porque é que as montanhas causam turbulência?
A turbulência em áreas montanhosas deve-se, principalmente à interação dos ventos com o terreno acidentado. Assim, quando o vento é forçado a subir para ultrapassar montanhas, podem gerar-se correntes de ar ascendentes e descendentes intensas.
Outro fenómeno comum associado é o das chamadas ‘ondas de montanha’, que são oscilações criadas pelo desvio do fluxo horizontal de ar sobre picos elevados, que podem gerar correntes verticais de até 2.000 pés por minuto. Estas condições tornam os céus instáveis e podem causar movimentos bruscos nas aeronaves.
Da mesma forma, temperaturas elevadas e alta humidade intensificam a turbulência, o que explica a gravidade dos eventos sobre os Andes.
O impacto da turbulência no futuro da aviação
Especialistas alertam que a turbulência está a tornar-se mais frequente e severa devido às alterações climáticas. Segundo a Universidade de Reading, no Reino Unido, eventos de turbulência podem duplicar até 2050, impulsionados por condições atmosféricas mais extremas e imprevisíveis.
Para mitigar os riscos, a indústria da aviação tem investido em tecnologia de monitorização e previsão. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) lançou, em 2018, a plataforma Turbulence Aware, que reúne dados de mais de 2.600 aeronaves e ajuda a planear rotas mais seguras.
Mesmo assim, alguns tipos de turbulência, como a turbulência em céu claro, permanecem difíceis de prever. Segundo o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA (NTSB), 28% dos incidentes de turbulência ocorrem sem qualquer aviso prévio.
Conselhos para passageiros
Embora os aviões modernos sejam projetados para resistir a turbulência extrema, os passageiros continuam vulneráveis. Em todos os incidentes registados em 2024, aqueles que mantiveram os cintos de segurança afivelados não sofreram ferimentos graves.
O conselho dos especialistas é claro: independentemente da tranquilidade do voo, manter o cinto de segurança sempre apertado é a melhor forma de garantir a segurança em caso de turbulência inesperada.