Shaman: Fenómeno ‘pop’ da Rússia visto como chave para Putin vencer a guerra na Ucrânia

Se lhe dissermos que há uma ‘estrela pop’ russa que pode significar um ponto de viragem na guerra na Ucrânia, certamente ficaria a coçar a cabeça. Mas é verdade. ‘Eu sou russo’, do cantor Shaman, tornou-se praticamente o segundo hino nacional da Rússia e colhe enorme popularidade em faixas etárias de todas as idades, sendo que o músico já se tornou numa figura de defesa do regime de Putin e de nacionalismo russo, perante o isolamento do país decorrente da sua invasão à Ucrânia.

A música até era usada para torturar Navalny na prisão, como o próprio revelou nas redes sociais. De manhã, era acordado com gritos às 5h00 e obrigado a ouvir o hino da Rússia, seguido de ‘Eu Sou Russo’.

Shaman é imagem do patriotismo e já foi ‘sacado’ para a campanha presidencial de Putin. Com letras baseadas na vitória da Rússia na guerra na Ucrânia, e sobre a superioridade política do país, as músicas têm-se tornado numa poderosa arma de propaganda do kremlin.

Mas quem é Shaman? Yaroslav Dronov, de cabelo loiro e normalmente vestido de calças pretas e camisa branca é agora o típico galã da música pop. Faz furor entre as mulheres, mas tem o Kremlin como maior fã.

“É um fenômeno social brutal, mas acima de tudo é um reflexo da eficácia da propaganda russa , basta olhar para as letras de guerra nacionalistas e pró-ucranianas de Shaman”, explica ao El Confidencial Yuri Felshtinsky, historiador.

Ganhou fama nas versões russas do The Voice e Fator X, onde ficou em segundo lugar, mas foi nos últimos anos, com as letras nacionalistas, que foi ganhando admiradores no círculo de Putin. Foi até convidado para cantar o hino nacional, em 2022, quando a Rússia anunciou a anexação de regiões ucranianas.

Sabendo que tem a ganhar, o cantor tem reforçado esta mensagem pró-Putin, e até num concerto apareceu com a famosa ‘mala nuclear’ do líder russo, abrindo e carregando num botão, que fez explodir fogo de artifício. A música de fundo? ‘Eu Sou Russo’, claro.

Ao mesmo tempo que a opinião pública parecia fraquejar no apoio à continuação da guerra na Ucrânia, Shaman ganhava popularidade e, com as mensagens das letras, tem conseguido, ao que tudo indica, encetar uma reviravolta.

Yuri Felshtinsky afirma que a canção I am Russian foi encomendada pelo Kremlin e que a unidade do país fica em segundo plano.

“O governo controla os media e os programas de rádio e televisão. O público não tem realmente a capacidade de escolher a música ou os produtos que consome e o Shaman está a ganhar dinheiro com isso”, continua.

Segundo apontam comandantes ucranianos, o problema foi o Ocidente achar que a Rússia seria travada pelas perdas humanas e materiais muito elevadas. Mas mesmo com 150 mil soldados mortos, a ofensiva continua.

Em especial, com o furor que faz nas redes sociais, Shaman é visto como ‘embaixador’ de Putin junto da juventude.

“Este ênfase na juventude não é coincidência. Reflete preocupações dentro do Kremlin de que os russos mais jovens e conhecedores da Internet são mais resistentes à propaganda estatal e têm o conhecimento para aceder a informações censuradas online. Também são mais propensos a que a geração emergente tenha mais opiniões favoráveis ​​sobre a Europa e os Estados Unidos do que os russos mais velhos, que continuam a obter a maior parte da sua informação nas redes de propaganda de Putin”, assinala Doug Klain , vice-diretor do Centro da Eurásia do Atlantic Council.

Embora seja difícil medir se os esforços do Governo russo para promover o sentimento pró-guerra entre jovens (e não só), a verdade é que, segundo os dados do centro de investigação independente russo Levada Center, 71% dos jovens russos apoiavam a invasão da Ucrânia.

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