Setor privado responsável por mais de metade da oferta hospitalar em Portugal. Trofa Saúde, Luz Saúde, José de Mello e Lusíadas representam 35%
O setor das residências sénior e cuidados de saúde em Portugal está a registar um dinamismo crescente, com um aumento de oportunidades de investimento. Em 2050, mais de um terço da população portuguesa terá mais de 65 anos, tornando Portugal o terceiro país mais envelhecido da União Europeia.
Segundo o estudo “Portuguese Healthcare and Senior Living” divulgado hoje pela CBRE Portuga, em 2020, 23% da população tinha mais de 65 anos, e a previsão é que este valor atinja os 34% até 2026.
O aumento dos gastos com cuidados de saúde é outro indicador da crescente procura. Em 2023, o montante gasto em saúde em Portugal subiu para 26,5 mil milhões de euros, representando 10% do PIB, com um aumento de 50% desde 2016. Em média, cada português gastou 1.074 euros em cuidados ambulatórios, representando 46% do total gasto em saúde.
Portugal possui 243 hospitais, sendo o setor privado responsável por 54% da oferta hospitalar. Entre 2014 e 2017, o número de hospitais manteve-se estável, mas desde então houve um aumento de 8%, com a abertura de 18 novas unidades, das quais apenas uma foi pública. Este crescimento é impulsionado pela escassez de oferta pública, que sofre com problemas estruturais, como longos tempos de espera e capacidade limitada.
Os principais operadores privados no setor de cuidados de saúde controlam 35% das camas, com destaque para grupos como Trofa Saúde, Luz Saúde, José de Mello e Lusíadas. O rácio de camas por habitante em Portugal é de 3,5 por cada mil habitantes, comparado com 5,3 camas na média europeia, o que torna o setor altamente atrativo para investimentos.
No segmento de cuidados continuados, existem 377 unidades em Portugal, com um total de 9.771 camas. No entanto, apenas 2% destas camas estão no setor público, sendo o restante operado por entidades privadas e sem fins lucrativos, como a Santa Casa da Misericórdia e IPSS.
José Moutinho, responsável pela área de research na CBRE Portugal indica que “a falta de camas no serviço nacional de saúde é bastante severa, particularmente nos distritos de Lisboa e Porto. Em 2023 existiam mais de 1.800 pessoas a aguardar por uma cama em cuidados continuados e é previsível que este número venha a aumentar, o que obrigará também a um incremento significativo na oferta”.
Quanto às residências sénior, Portugal conta com 2.632 unidades, sendo 25% delas operadas por empresas privadas. A taxa de ocupação é elevada, com 91,8% das camas ocupadas, e 70% dos residentes permanecem por um período de até cinco anos. Os cinco principais operadores de residências sénior somam mais de 3.800 camas, com destaque para grupos como as Residências Montepio e DomusVi.
Igor Borrego, Head of Capital Markets da CBRE acrescenta: “Em Portugal, nos anos de 2020 e 2021, transacionaram-se três importantes portefólios e apesar de desde então não se terem registado transações nestes setores, existem algumas operações em pipeline que ultrapassam os 50 milhões de euros. Acredito que o investimento venha a crescer significativamente no futuro e este setor assista à entrada de novos investidores e operadores internacionais atraídos pela oportunidade que Portugal representa como país”.
O estudo aponta nove fatores que favorecem o investimento neste setor, incluindo o aumento da população idosa, o desequilíbrio entre oferta e procura, e a elevada cobertura de seguros de saúde. Além disso, o mercado de cuidados especializados e as residências sénior representam investimentos estáveis a longo prazo, o que aumenta o apelo para novos operadores e investidores no país.