Setor do comércio e dos serviços queixa-se de “não-valorização” e pede ao Governo um “choque fiscal”

João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), confessou, em entrevista ao jornal Público que existe “um clima de “não-valorização” na política face às empresas e criticou duramente o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), por dar pouca atenção ao setor do comércio e dos serviços.

O líder associativo sublinha ainda que “há uma grande confusão em que os sindicatos por vezes alinham. Quando se fala de empresas, as pessoas só se lembram das empresas grandes quando o nosso tecido empresarial tem uma média de 10 pessoas por empresa”.

João Vieira Lopes queixa-se de pouca atenção por parte do Executivo de António Costa e dá dois exemplos, relacionados com o PRR: “uma parte significativa do investimento é feita no sector público, a prioridade é claramente essa em detrimento dos projetos virados para as empresas. O Governo transferiu para o PRR parte das despesas de investimento que deviam ter sido feitas pelo Orçamento do Estado (OE) porque está a suportar custos de estrutura acima do que seria razoável”.

“Por outro lado, a primeira versão do PRR era praticamente omissa na área de comércio e serviços (que pesa mais do que dois terços quer no emprego, quer no valor acrescentado bruto, quer no PIB). Nesta versão final, tem uma ou duas coisas positivas como o acesso à qualificação e ao digital”.

Segundo a CCP, citada pelo Público, na parte dos últimos fundos europeus que foi para o setor privado, apenas 4% foi para o comércio, 11% para os serviços e 15% para o turismo. “Esta menorização é extremamente negativa”, acrescenta o presidente da organização.

“Somos favoráveis ao aumento do rendimento dos consumidores – foi isso que aguentou parte da economia durante esta crise. O Governo tem um conjunto de propostas, na área social e na área dos rendimentos individuais, que poderão ser positivas mas até agora as experiências passadas, como mexidas de escalões de IRS, foram todas de efeito muito limitado”, sublinha João Vieira Lopes.

Para o líder associativo, entrevistado pelo Público, “neste momento, o tecido empresarial precisa de um choque fiscal, não maximalista, mas que apoie o mercado interno e o exportador sem um incremento de custos significativo”. “Como os salários têm que subir, compete ao Governo criar um sistema de desagravamento fiscal”, remata.