Seis mortos numa semana por atrasos na assistência médica do INEM

Desde a última quinta-feira, seis pessoas perderam a vida devido a atrasos graves na assistência médica em diferentes regiões de Portugal. Os casos, que se multiplicaram por Castelo de Vide, Vendas Novas, Almada e Cacela Velha, destacam uma situação crítica no sistema de emergência médica nacional, que envolve tempos de resposta extremamente longos e limitações no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), gerido pelo INEM, no âmbito de uma greve às horas extras que está a decorrer.

Um dos casos mais chocantes ocorreu em Almada, onde uma mulher de 70 anos, que estava no Tribunal para prestar depoimento num processo de violência doméstica, se sentiu mal e necessitou de assistência urgente. A situação agravou-se quando o contacto com o CODU falhou repetidamente, deixando-a sem socorro durante uma hora e meia. Durante esse tempo crítico, funcionários do tribunal e uma procuradora contactaram diretamente os Bombeiros de Almada, mas as ambulâncias da corporação estavam ocupadas noutras ocorrências.

Num último esforço, o comandante da Esquadra de Almada mobilizou uma viatura-patrulha da PSP para transportar a vítima ao Hospital Garcia de Orta. Apesar de ter sido levada em marcha de urgência, a mulher acabou por falecer no dia seguinte. Dada a gravidade da situação, o Ministério Público decidiu travar a libertação do corpo para que seja realizada uma autópsia, procurando entender se a demora foi determinante para a morte.

Espera agonizante em Castelo de Vide
Também na segunda-feira, em Castelo de Vide, uma mulher de 86 anos entrou em paragem cardiorrespiratória no lar onde residia. Durante cerca de hora e meia, escreve o Correio da Manhã aguardou-se assistência enquanto se tentava estabelecer comunicação com o CODU. A Fundação Nossa Senhora da Esperança, onde a vítima residia, relata que foram feitas múltiplas chamadas ao 112, mas não houve resposta do centro de emergência. A idosa foi eventualmente transportada para o Hospital de Portalegre, onde morreu horas depois, numa perda que, segundo testemunhas, poderia ter sido evitada com uma resposta mais rápida.

Vendas Novas e Cacela Velha também sofrem as consequências
No Alentejo, a crise repetiu-se. Em Vendas Novas, um homem de 73 anos faleceu após sentir-se mal em casa. A espera pela resposta dos serviços de emergência prolongou-se por 40 minutos, levando os familiares a contatarem diretamente os Bombeiros de Vendas Novas, que se viram forçados a chamar o INEM por meios próprios.

Outro caso, em Cacela Velha, Vila Real de Santo António, resultou na morte de João Martins, de 77 anos, que sofreu uma queda de bicicleta. Os familiares relatam que a espera pela chegada de uma ambulância se estendeu por uma hora e meia, tempo que pode ter sido fatal para o idoso, cuja assistência se revelou insuficiente e dolorosamente tardia.

Ministra admite falta de recursos e medidas emergenciais
Na sequência destas ocorrências, a ministra da Saúde reconheceu publicamente, na quarta-feira, a “enorme falta de recursos” no INEM, agravada pela greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar, que reivindicam melhores condições salariais e revisão das suas carreiras. Este movimento grevista, que tem limitado a disponibilidade dos técnicos para realizarem horas extraordinárias, é um fator que, segundo a ministra, está a contribuir para a atual situação crítica no atendimento de urgências.

Em resposta à onda de críticas e aos atrasos nas respostas de emergência, o INEM anunciou alterações nos seus procedimentos de triagem. A entidade planeia implementar um sistema de triagem mais rápida, visando reduzir o tempo de espera para chamadas que ultrapassem os três minutos. Outra medida inclui a integração de enfermeiros nas equipas do CODU, numa tentativa de colmatar a falta de pessoal e agilizar as respostas em situações de urgência.