Scholz bloqueia pacote de ajuda à Ucrânia no valor de três mil milhões de euros

O chanceler alemão, Olaf Scholz, travou uma proposta de financiamento adicional no valor de 3 mil milhões de euros destinada à Ucrânia, que incluía armamento crítico. A revelação foi feita pela revista alemã Spiegel, que detalha os esforços dos ministros Annalena Baerbock, dos Verdes, e Boris Pistorius, do Partido Social-Democrata (SPD), para aprovar a medida.

A proposta, apresentada pelos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, previa o envio de sistemas de armamento essenciais à Ucrânia, como três baterias adicionais de defesa aérea Iris-T, 10 obuses e munições de artilharia. O plano foi elaborado no seguimento do colapso da coligação governamental em novembro, com o objetivo de garantir a aprovação parlamentar antes das eleições federais antecipadas, agendadas para fevereiro.

Baerbock e Pistorius justificaram a necessidade do pacote com base no agravamento da situação militar ucraniana, exacerbada por incertezas sobre o apoio continuado dos Estados Unidos após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas. Ambos os ministros destacaram que o reforço militar representava um sinal crucial de que a Alemanha permanece firme no seu apoio à Ucrânia.

Apesar dos esforços dos ministros, Olaf Scholz opôs-se à proposta. Segundo a reportagem do Spiegel, o chanceler argumentou que os 4 mil milhões de euros já previstos para 2025, juntamente com fundos provenientes de um empréstimo do G7 de 50 mil milhões de dólares, financiado por ativos russos congelados, seriam suficientes para as necessidades de defesa da Ucrânia. Scholz mostrou-se relutante em comprometer o futuro governo com novos encargos financeiros, particularmente num período eleitoral.

A decisão de Scholz reflete também preocupações políticas. O líder do SPD receia que o aumento no envio de armamento possa alienar eleitores, numa campanha eleitoral já marcada por divisões. Em contrapartida, os Verdes procuram capitalizar o seu apoio a um aumento das despesas de defesa como um trunfo eleitoral.

Apesar do bloqueio ao pacote adicional, o ministro da Defesa, Boris Pistorius, reafirmou o compromisso da Alemanha com a Ucrânia durante uma reunião do Grupo de Contacto para a Defesa da Ucrânia, realizada na Base Aérea dos EUA em Ramstein, na passada quinta-feira. Pistorius anunciou que a Alemanha irá fornecer cerca de 50 mísseis guiados para os sistemas de defesa aérea IRIS-T, originalmente destinados à Bundeswehr, mas redirecionados diretamente para a Ucrânia.

“Nós forneceremos à Ucrânia primeiro antes de repor os nossos próprios estoques”, garantiu Pistorius, sublinhando que a Ucrânia pode continuar a contar com o apoio alemão, independentemente do desfecho das próximas eleições federais.

O gabinete do chanceler Scholz até ao momento não se pronunciou oficialmente sobre a polémica.

A decisão de Scholz sublinha as dificuldades internas enfrentadas pela Alemanha na gestão da sua política de apoio militar à Ucrânia, num cenário onde as tensões políticas internas e a instabilidade internacional se cruzam. A proposta bloqueada por Scholz reflete um equilíbrio delicado entre as necessidades urgentes da Ucrânia e as dinâmicas eleitorais alemãs.