Rússia lançou mesmo míssil balístico intercontinental contra a Ucrânia? Oficial levanta dúvidas à imprensa dos EUA e aliados estão a tentar confirmar

Na madrugada de quinta-feira, a Rússia lançou um míssil em direção à cidade de Dnipro, no sudeste da Ucrânia, levantando suspeitas sobre a utilização de um míssil balístico intercontinental (ICBM), ago que foi logo alegado pela Ucrânia. A confirmação desta hipótese, porém, permanece incerta, à medida que surgem versões contraditórias entre autoridades ucranianas e fontes ocidentais.

Lançamento de míssil: o que sabemos até agora
De acordo com as Forças Armadas da Ucrânia, o míssil foi identificado como um ICBM, sendo acompanhado no momento do lançamento, juntamente com outros seis mísseis. O disparo teria ocorrido por volta das 5h da manhã, a partir da região de Astrahan, no sudoeste da Rússia. Enquanto seis mísseis foram abatidos pela defesa aérea ucraniana, apenas o míssil alegadamente identificado como ICBM atingiu um alvo em Dnipro, causando danos limitados a infraestruturas críticas, mas sem registo de vítimas.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou em comunicado nas redes sociais que “todos os parâmetros – velocidade e altitude – correspondem aos de um míssil balístico intercontinental”. No entanto, Zelensky também sublinhou que “os especialistas ainda estão a conduzir avaliações”, numa publicação feita já depois de surgirem as primeiras dúvidas.

Um oficial ucraniano, falando com a ABC News, reiterou a hipótese, indicando que as análises preliminares apontavam para um ICBM, mas admitiu que a conclusão final depende da inspeção das partes do míssil recuperadas no terreno.

Dúvidas levantadas por fontes ocidentais
Apesar da alegação ucraniana, um oficial ocidental, citado anonimamente pela ABC News, questionou a identificação do projétil como um ICBM. Esta fonte destacou que a trajetória do míssil e as evidências disponíveis até ao momento não correspondem aos padrões típicos de um ICBM, sugerindo que se tratava de um míssil balístico de menor alcance.

Segundo a mesma fonte, um ICBM geralmente seria utilizado para atingir alvos a milhares de quilómetros de distância, com trajetórias e velocidades características. O alcance do míssil em questão, que viajou cerca de 800 quilómetros até atingir o alvo em Dnipro, não condiz com as capacidades típicas de um míssil balístico intercontinental, concebido para percorrer distâncias de cerca de 6.000 quilómetros.

Também, o oficial destacou que o custo elevado e a relativa imprecisão dos ICBMs tornam o seu uso num ataque convencional altamente improvável. “Do ponto de vista militar, seria um desperdício de recursos”, afirmou. Ainda assim, o oficial reconheceu que a decisão poderia ter um valor simbólico ou político, caso a intenção fosse enviar uma mensagem de escalada do conflito.

Pavel Podvig, especialista em armamento nuclear russo, reforçou esta visão numa publicação na rede social Bluesky, na qual afirma que “o uso de um ICBM neste contexto não faria sentido militar”. Para ele, tal ação seria mais plausível como um gesto político do que como uma estratégia militar prática.

Reações internacionais
O Reino Unido, através seus serviços de inteligência, está a investigar a alegação de que a Rússia utilizou um ICBM. Um porta-voz do primeiro-ministro britânico afirmou que, caso confirmado, o lançamento representaria “um comportamento grave, irresponsável e escalatório por parte da Rússia”.

Durante uma sessão no Parlamento, Keir Starmer, líder da oposição britânica, reiterou o compromisso do Reino Unido com a Ucrânia: “O nosso apoio é sempre proporcional, coordenado e em conformidade com a lei internacional”.

O possível uso de um ICBM surge num momento de crescente tensão, com a Ucrânia a realizar ataques em território russo utilizando mísseis de longo alcance fornecidos pelos EUA, como os ATACMS. Este desenvolvimento ocorre poucos dias após a autorização do presidente norte-americano, Joe Biden, para a utilização destas armas contra alvos dentro da Rússia.

Zelensky aproveitou a ocasião para criticar Vladimir Putin, descrevendo a Rússia como um “vizinho louco”. “Putin está tão assustado que já utiliza novos mísseis e procura armas em países como o Irão e a Coreia do Norte”, declarou o presidente ucraniano, destacando que “a Ucrânia continuará a defender a sua dignidade e independência”.

Se confirmado, este seria o primeiro uso de um míssil balístico intercontinental numa guerra. Contudo, as investigações ainda estão em curso, e a falta de confirmação oficial por parte de Moscovo e de especialistas ocidentais mantém o episódio envolto em dúvidas. Enquanto isso, o conflito na Ucrânia continua a escalar, com implicações globais cada vez mais alarmantes.