Rússia está aberta a discutir propostas de Trump para resolver guerra na Ucrânia, revela Lavrov

O Kremlin afirmou estar disposto a analisar as propostas de Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, para alcançar uma solução negociada para a guerra na Ucrânia. Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, esta postura marca um ponto de partida positivo para futuras negociações entre Washington e Moscovo.

Em conferência de imprensa realizada hoje, Lavrov elogiou a equipa de Trump por começar a reconhecer as “realidades no terreno” em relação à guerra na Ucrânia. Essa posição foi reforçada por declarações de Mike Waltz, o próximo conselheiro de segurança nacional, que disse, numa entrevista à ABC, que a resolução do conflito deve passar pela via diplomática. Waltz destacou que “não é realista” esperar que todos os russos sejam expulsos do território ucraniano, incluindo da Crimeia, anexada em 2014.

“Trump reconheceu essa realidade, e penso que isso é um enorme avanço. Agora é hora de avançarmos”, afirmou Waltz.

Lavrov reiterou que a Rússia está disposta a estudar as propostas de Trump quando este assumir o cargo, numa cerimónia marcada para 20 de janeiro. Contudo, sublinhou que qualquer solução para o conflito deve considerar as exigências de Moscovo, incluindo o reconhecimento da anexação das regiões de Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson, além da já incorporada Crimeia. A proibição da adesão da Ucrânia à NATO também permanece uma condição indispensável.

Para além da questão ucraniana, Lavrov abordou outro tema sensível: a alegada tentativa dos Estados Unidos de desativar o gasoduto TurkStream, que transporta gás russo para a Turquia e a Europa. Segundo o ministro russo, este gasoduto, juntamente com o Blue Stream, constitui uma das últimas rotas para o fornecimento de gás russo à Europa após a interrupção de trânsito pelo território ucraniano no início do ano.

Moscovo acusou Kiev de um ataque “terrorista” contra a infraestrutura do TurkStream, que teria como alvo uma estação de compressão na região de Krasnodar. Apesar do ataque, a instalação continua operacional e sem vítimas, informou o Ministério da Defesa russo.

Lavrov descreveu as ações como parte de uma estratégia mais ampla de Washington para enfraquecer a posição energética da Rússia.

Contactos com a Sérvia sobre a NIS
Outro tema abordado foi o futuro da petrolífera sérvia NIS, controlada maioritariamente pela Gazprom Neft. Face a novas sanções impostas pelos Estados Unidos ao setor energético russo, a Sérvia deu à Gazprom Neft um prazo de 45 dias para desinvestir na empresa. Lavrov garantiu que Moscovo está em contacto com os seus “amigos sérvios” para avaliar a situação.

Putin e Trump: uma reunião no horizonte?
Donald Trump anunciou recentemente a intenção de se encontrar “muito rapidamente” com o presidente russo, Vladimir Putin, após a sua posse. Questionado sobre os seus planos para resolver a guerra, Trump declarou à Newsmax: “Só há uma estratégia, e depende de Putin. Não creio que ele esteja satisfeito com a forma como as coisas têm corrido, porque também não têm sido fáceis para ele.”

Apesar das declarações de Trump, o Kremlin mostrou cautela, afirmando que “não há nada de novo nesta questão que exija comentários adicionais”.

Analistas citado pela Reuters veem na postura de Trump um possível alívio das tensões entre Moscovo e Washington, algo que Lavrov considera uma oportunidade para explorar soluções diplomáticas. A Rússia mantém-se atenta, mas sublinha que qualquer progresso dependerá do respeito pelas suas condições, sobretudo no que toca à integridade territorial da Ucrânia e à expansão da NATO.

Com a posse de Trump iminente, o mundo aguarda para ver se as promessas de negociação podem transformar-se em ações concretas para pôr fim a um conflito que já dura há quase três anos e que continua a moldar a geopolítica global.