Rendas de 20 mil dólares mensais: moradores desesperados após incêndios agravarem crise imobiliária em Los Angeles
Em Los Angeles, a segunda cidade maior cidade dos Estados Unidos, a pressão imobiliária cresceu exponencialmente após os incêndios mortais terem devastado bairros inteiros: é o caso da família La Via, que arrendou um apartamento num complexo de luxo no centro de Santa Monica, mais parecido com um hotel de cinco estrelas do que com a vida convencional. De acordo com o jornal britânico ‘The Guardian’, não hesitaram em ficar com um apartamento de três quartos, apesar de estar listado a mais de 20 mil dólares mensais. A justificação? “Há muitas pessoas a olhar para ele.”
Em poucos dias, o complexo de luxo já praticamente não tem vagas: a família La Via, que se mudou na passada quarta-feira com algumas bolsas de viagem e móveis do Ikea comprados à pressa, foram informados que eram um dos 25 novos arrendamentos desde o início dos incêndios, no passado dia 7. Os La Vias, ambos médicos, têm sorte de ter fundos para cobrir um custo de arrendamento que ofusca o poder aquisitivo de mais de 90% dos californianos.
Los Angeles, antes dos incêndios, era uma cidade com imóveis para arrendar disponíveis, mas muitas vezes fora do alcance de famílias de baixo rendimento: o arrendamento médio de um apartamento de três quartos era pouco menos de 4 mil dólares, acessível apenas a famílias com rendimento anual de mais de 160 mil dólares, o que constitui o dobro do que realmente ganha uma família média americana.
Agora, com mais de 15 mil estruturas queimadas até ao chão – a maioria prédios residenciais – a pressão agora é encontrar moradias alternativas para dezenas de milhares de pessoas que perderam tudo. O governador da Califórnia, Gavin Newsom, emitiu uma ordem executivo para tornar ilegal aos proprietários aumentem o valor da renda, no entanto, ativistas imobiliários denunciaram que centenas de proprietários estão a aproveitar o aumento da procura, especialmente em áreas adjacentes aos maiores incêndios em Pacific Palisades e Altadena.
Segundo os ativistas, uma casa com cinco quartos em Santa Monica viu o seu preço disparar de 12.750 dólares por mês para 28 mil dólares. Outra casa em Bel Air, que custava 15.900 dólares, passou para 29.500 dólares. De acordo com o procurador público de Los Angeles, Nathan Hochman, prometeu que qualquer um que aumentasse os seus preços além dos limites legalmente estabelecidos seria processado e “envergonhado publicamente”.
A pressão quase atingirá todo o mercado imobiliário — não apenas os arrendamentos, mas também a compra de casas, que se tornaram cada vez mais inacessíveis para aqueles sem riqueza geracional. Mas não são apenas os preços das moradias – conforme os proprietários e comunidades se preparam para reconstruir numa escala enorme, os empreiteiros e os materiais de construção vão tornar-se mais escassos e mais caros em toda a cidade: isto sem se levar em linha de conta a possibilidade de os trabalhadores de construção civil sem documentos podem vir a ser detidos e deportados pela recém-Administração Trump. Os custos do seguro devem aumentar, talvez dramaticamente.
Depois da maioria dos desastres, o combate mais eficaz a essas pressões é a ajuda do Governo federal, mas isso também está em dúvida, já que Donald Trump e os seus aliados sugerem que a ajuda para Los Angeles pode vir com condições — se é que virá de todo.