Reinflação à vista? A crise energética que complica a política monetária do BCE
O Banco Central Europeu (BCE) enfrenta um cenário desafiante, agravado por riscos inflacionistas derivados do aumento dos preços da energia. O gás natural e o petróleo, que haviam registado períodos de estabilização, ressurgem como fatores de pressão num contexto de baixas reservas e tensões geopolíticas, intensificando o dilema do BCE entre controlar a inflação e sustentar a economia enfraquecida.
Recentemente, Robert Holzmann, membro do Conselho do BCE, alertou no Fórum de Davos para o “risco de reinflação” devido ao esgotamento das reservas de gás e ao impacto do encerramento do último gasoduto russo que atravessa a Ucrânia.
Este cenário, aliado às temperaturas mais frias e à redução na geração eólica durante os meses de inverno, acelerou o esvaziamento das reservas europeias de gás, que se encontram a 60% da capacidade, abaixo dos 74,82% registados no mesmo período em 2024, segundo a Gas Infrastructure of Europe, revela o ‘elEconomista’.
O preço de referência do gás na Europa (TTF holandês) subiu para 47,5 euros por megawatt-hora, um aumento de 71% face ao ano anterior. Este crescimento deve-se a fatores como a procura global elevada, as temperaturas rigorosas e o aumento da competição com a Ásia por cargueiros de gás natural liquefeito (GNL). A S&P Global alerta que a procura durante o verão poderá desencadear uma nova crise no mercado grossista de energia, semelhante à de 2022.
No caso do petróleo, a situação também se complicou. Desde o início de 2025, o preço do barril de Brent ultrapassou os 80 dólares, refletindo um aumento de 8 dólares em comparação com o mês anterior. As razões incluem as novas sanções dos EUA ao petróleo russo e iraniano, bem como o impacto das baixas temperaturas no hemisfério norte. Este aumento, que se soma à desvalorização do euro face ao dólar, eleva os custos para os consumidores europeus e pode acrescentar até 0,2 pontos percentuais à inflação da zona euro nos próximos meses, de acordo com o BCE.
Especialistas alertam que o aumento dos preços da energia poderá forçar o BCE a reavaliar os planos de redução das taxas de juro, atualmente estimados em quatro cortes de 25 pontos base até junho, revela a mesma fonte.