“Queria ouvir, para ser mais genuíno e natural”: Marcelo explica polémica visita ao Bairro do Zambujal e Cova da Moura e ausência de Luís Montenegro
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu, esta terça-feira, a sua visita ao Bairro do Zambujal, na sequência dos tumultos verificados após a morte de Odair Moniz, vítima de disparos de um agente da PSP, ‘ilibando’ o Governo de Luís Montenegro de ainda não ter feiro qualquer visita.
O Presidente da República salientou que só avisou o presidente da câmara local, Vítor Ferreira, “quando estava a chegar, para ser mais genuíno, natural e direto. A ideia não era decidir o que quer que fosse, era medir o pulso da situação”.
“A minha ideia era ir primeiro ao Bairro do Zambujal, primeiro à esquadra da PSP, e depois o convívio com as pessoas. Só depois, ao jantar, decidir ir à Cova da Moura, já durante a noite. Quando estava no Bairro do Zambujal, o autarca contactou a família de Odair Moniz, com quem falei e apresentei os pêsames. Entretanto, na mesma noite, tinha contactado a mãe do motorista que está internado para perceber a evolução da saúde. Também tenho mantido permanente ligação com o diretor nacional da PSP para saber como se encontram os dois jovens agentes, como estão a reagir. Tenho acompanhado isso também”, descreveu Marcelo.
A visita do Presidente da República não quis alimentar a polémica da ausência de um elemento do Governo na sua visita aos bairros na região da Grande Lisboa. “A minha ideia, ao não ir com um membro do Governo, era estar à vontade para ouvir”, referiu.
“O Governo contactou associações, que foram convocadas para uma reunião no começo da semana. Admito que o Governo não possa ir aos bairros sem levar uma ideia para falar com os bairros. O líder da oposição [Pedro Nuno Santos], que foi ouvir os bairros – e muito bem, a meu ver -, toma posições de princípio, mas não assume compromissos concretos. O Governo não pode chegar lá e não assumir compromissos concretos”, indicou Marcelo, à margem do Encontro Nacional de Cuidadores Informais, que decorreu em Vila Nova de Gaia.
O Executivo de Luís Montenegro, salientou, foi informado da sua intenção e não se opôs. “O senhor primeiro-ministro recebeu a minha comunicação a perguntar se se opunha. Não tinha objeção. Não houve combinação, comuniquei que ia”, indicou o presidente, salientando não ter aparecido mais cedo “porque havia manifestações, depois o funeral, a vigília… entendi que só depois disso, e depois do Governo ter tomado uma iniciativa, é que estaria em condições de aparecer. Mas respeito que o Governo entenda, em conjunto com os autarcas, quando aparecer. Essa é uma decisão do Governo, não do presidente”, rematou.
Os tumultos em vários bairros da Área Metropolitana de Lisboa surgiram na sequência da morte de Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos e morador no bairro do Zambujal, na Amadora. Foi baleado por um agente da PSP na madrugada de 21 de outubro, no bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho.
Desde então, registaram-se tumultos no Zambujal e noutros bairros da Grande Lisboa, onde foram queimados e vandalizados autocarros, automóveis e caixotes do lixo, somando-se cerca de duas dezenas de detidos e outros tantos suspeitos identificados. Sete pessoas ficaram feridas, uma das quais com gravidade.