Quem são as vozes que aconselham Montenegro? O núcleo duro do primeiro-ministro que orientará as próximas decisões difíceis

Nos próximos tempos, Montenegro enfrentará dois grandes testes: o Orçamento do Estado e a nomeação do novo Procurador-Geral da República. Estes momentos serão decisivos para a sua liderança e poderão determinar o sucesso do seu governo a médio prazo. Para isso, o primeiro-ministro estará já a contar com os conselhos dos elementos do seu ‘núcleo duro’.

“Solitário por natureza”, como é descrito pelos seus aliados, Montenegro é um líder meticuloso, com uma abordagem firme, mas ponderada. As suas decisões, dizem, são fruto de profunda reflexão e não são condicionadas por pressões externas, embora ouça atentamente os conselhos dos que o rodeiam.

O Círculo Próximo do Primeiro-Ministro

O núcleo duro de Montenegro, um círculo íntimo composto por figuras-chave, tem um papel fundamental na estratégia e direção política do governo. Este grupo tem a tarefa de moldar o discurso, planear a programação política e liderar os combates contra a oposição. Hugo Soares, Paulo Rangel, António Leitão Amaro, Pedro Duarte e Manuel Castro Almeida formam a primeira linha de confiança do primeiro-ministro, segundo lista o Diário de Notícias.

Hugo Soares, que muitos consideram “o ministro mais poderoso” sem, na verdade, ter assumido o cargo de ministro, é uma peça central neste grupo. Com 41 anos, Soares é secretário-geral do PSD, líder do grupo parlamentar, e amigo íntimo de Montenegro. “Mais do que um parceiro, é um confidente”, dizem fontes próximas. A sintonia entre os dois é evidente, não só no campo político, mas também no pessoal – passando férias juntos, partilham uma visão política próxima, numa espécie de “cavaquismo moderno”, sem divergências significativas.

A influência de Hugo Soares

Soares é descrito por fontes ao mesmo jornal como “o mais político” entre os cinco homens de confiança, sendo aquele que mais tempera a liderança de Montenegro. Embora Montenegro seja frequentemente descrito como frio e calculista, Soares acrescenta uma dose de emoção e, por vezes, uma certa impulsividade ao processo decisório. No entanto, a relação entre os dois não é de submissão. Ambos partilham uma compreensão mútua tão profunda que raramente precisam de verbalizar as suas ideias.

A relação entre os dois é, para muitos, à prova de bala. Ainda assim, alguns recordam que até Cavaco Silva e Fernando Nogueira, outrora inseparáveis, acabaram por se desentender, deixando em aberto a possibilidade de uma eventual discórdia futura entre Montenegro e Soares. Contudo, é amplamente acreditado que as semelhanças ideológicas e a cumplicidade política entre os dois tornam essa possibilidade improvável.

Os outros “generais” de Montenegro

Paulo Rangel, um veterano da política europeia, perdeu duas vezes as eleições internas do PSD – para Passos Coelho em 2010 e para Rui Rio em 2021 – mas manteve uma posição de destaque no partido. Agora, como ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rangel acrescenta gravitas ao governo de Montenegro, sobretudo em questões europeias, onde o atual primeiro-ministro carece de experiência. É uma figura de peso, capaz de influenciar decisões governamentais em áreas-chave.

Pedro Duarte, ministro dos Assuntos Parlamentares, é outro elemento importante no círculo de Montenegro. Descrito como mais liberal nos costumes e pragmático nas políticas, Duarte é visto como alguém que ajuda Montenegro a refletir de forma diferente, sobretudo no que diz respeito à relação entre as políticas adotadas e os resultados eleitorais.

Os outros rostos do núcleo duro

Manuel Castro Almeida, ministro Adjunto e da Coesão Territorial, e António Leitão Amaro, ministro da Presidência, completam este núcleo duro. Castro Almeida é um especialista em fundos europeus, área crucial para o sucesso do governo, enquanto Leitão Amaro é uma peça fundamental na articulação entre os ministérios, apesar de se destacar por, por vezes, recorrer a um autoritarismo desnecessário. Ainda assim, é amplamente reconhecido pela sua capacidade de trabalho e pela preparação rigorosa que traz para as decisões políticas.

Pedro Esteves: O Homem das Comunicações

Fora do núcleo político, mas igualmente essencial para o funcionamento do governo, encontra-se Pedro Esteves, o responsável pela coordenação da comunicação. Engenheiro de formação e sem uma ligação prévia a Montenegro, Esteves conquistou a confiança do primeiro-ministro pela sua lealdade e discrição. A sua estratégia de comunicação é clara: “Só faz sentido comunicar quando há algo a comunicar.”

Desafios e comparações com o passado

Montenegro tem cultivado uma relação próxima com antigos líderes do PSD, como Marques Mendes e Cavaco Silva, com quem mantém um contacto regular. Contudo, a relação com Passos Coelho é praticamente inexistente, tendo-se deteriorado antes mesmo de Montenegro assumir a liderança do partido. A tensão entre os dois aumentou quando Passos desafiou Montenegro, através de um artigo de opinião, a reverter a lei da eutanásia, o que foi visto como uma provocação.

 

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