Quase 4 mil docentes: há uma década que não se reformavam tantos professores num ano

Desde 2013 que não se reformavam tantos professores: este ano, 3.981 docentes vão abandonar a vida ativa, perto dos cerca de 4 mil registados há 10 anos, avançou esta segunda-feira o ‘Diário de Notícias’, o que veio agravar os problemas enfrentados por alunos, diretores de escolas e professores.

As pequenas melhorias registadas nas escolas devem-se, sobretudo, a um aumento da carga de trabalho dos docentes a quem foram atribuídas horas extraordinárias, sendo que a grande dificuldade está na substituição de docentes por aposentação – 506 este mês, um novo recorde do ano – ou baixa médica, pois “não existem professores para os substituir”.

“A escassez de professores é um vírus que atinge principalmente Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve, e que se está a estender para o Centro e Norte do país, e em breve transformar-se-á numa pandemia. A substituição dos milhares de professores aposentados torna-se cada vez mais difícil, pois não os há”, sustentou Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).

Das várias medidas do Governo para reduzir em 90% o número de alunos sem professor a pelo menos uma disciplina, apenas a atribuição das horas extraordinárias se fez sentir. “Foi uma medida preconizada com enorme eficácia. Contudo, o apoio aos professores na sua estadia deveria ter um impacto enorme na resolução da escassez destes profissionais, se fosse uma das medidas adotadas. É lamentável não se ter recorrido a uma solução de emergência para resolver um problema muitíssimo grave”, apontou.

Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, não reconheceu grandes efeitos nas propostas do Governo, insistindo que a aposta deve estar na valorização da carreira. “Se se quiser, na verdade, dar a resposta imediata de que o sistema necessita, não há grande alternativa à valorização da profissão, atraindo o maior número possível de professores que abandonaram a profissão. Caso se mantenham as condições salariais e de trabalho que os levaram a abandonar, é óbvio que não regressarão. Só que o MECI teima em aprovar medidas avulsas e vai adiando a que deveria ser prioritária e que passa pela revisão do ECD de forma a valorizar a profissão docente”.

Também Cristina Mota, porta-voz da Missão Escola Pública, defendeu que as medidas “não surtiram efeito”. “Em parte porque muitas ficaram aquém do anunciado. As estratégias implementadas, como o regresso de aposentados, o adiamento das reformas e a integração de bolseiros, mestres e doutorados, revelaram-se ineficazes. O concurso extraordinário, por exemplo, apenas regularizou situações de docentes já a lecionar e incluiu 174 vinculados sem profissionalização ou experiência em ensino”, concluiu.