Quais os principais desafios das empresas no pós-pandemia? Grandes ‘players’ respondem

Decorreu esta terça-feira, no Museu do Oriente em Lisboa, a 21.ª Conferência Executive Digest com o tema “Desafios e Oportunidades – na Economia Pós-Covid”. Neste evento, 12 presidentes, CEOs e gestores subiram ao palco para traçar possíveis caminhos para o futuro dos negócios e da economia em Portugal.

Ricardo Florêncio, CEO do Multipublicações Media Group, abriu o evento, subordinado o seu discurso  à questão de como  “será Portugal num futuro próximo?”.

Como lembrou o CEO, “sabemos que no futuro próximo, o país será dos que terá o crescimento económico mais atrasado [dentro da zona euro]”.

Ricardo Florêncio recordou ainda que “está a chegar um Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mas estará a ser feito um investimento produtivo?”, interroga.

O executivo salientou a necessidade de superar “os pequenos números” e a demora na concretização e execução dos planos de crescimento, dando como exemplo “as três décadas, durante as quais o aeroporto de Lisboa ainda não saiu das folhas de cálculo”.

“O caminho faz-se para frente, com aqueles que se movem na economia real, as empresas, através da partilha de ideias e oportunidades”, rematou.

 

“Portugal tem que criar e distribuir mais riqueza pelos cidadãos”

José Gonçalves, Presidente da Accenture, foi o primeiro interveniente da conferência da Executive Digest, debruçando-se sobre 3 ideias para Portugal, ideias essas que devem passar prementemente à ação e que estão centradas em 3 eixos: pessoas, empresas e Administração Pública.

O Presidente da Accenture sublinhou durante a sua intervenção que “Portugal tem que criar e distribuir mais riqueza pelos cidadãos” e, como tal, devemos começar pelo primeiro eixo, as pessoas.

O executivo destacou que, de forma a gerar riqueza para as pessoas, devemos acelerar a qualificação de talentos por forma a potenciar a criação de negócios com mais valor acrescentado por forma a potenciar o crescimento da economia empresarial e o aumento dos salários dos trabalhadores

 

João Duque: “A Administração Pública é uma anedota em termos de avaliação”

João Duque, professor de gestão do Instituto Superior de Economia e Gestão, ISEG, defendeu que “o Estado deve ser mais parecido com a realidade das empresas”.

João Duque lembrou ainda a necessidade  de ter avaliações sérias de funcionários e organizações. “Temos avaliações pessoais hoje e dia que não servem para nada, não têm consequências, não dão remuneração nem exclusão na administração pública”.

“Quando me tornei presidente ISEG, havia uma pessoa com péssima avaliação e disseram-me que devíamos dar uma boa classificação, que assim essa pessoa concorria para outro lugar”, contou.

 

“É impossível uma empresa ser competitiva em Portugal” devido à política fiscal, diz Diretor-Geral da Jaba Recordati

Nelson Pires sublinhou ainda que “é impossível uma empresa ser competitiva em Portugal” devido à política fiscal, considerando que o Estado é o maior “servedor” das empresas.

Para tal, sugere a criação de incentivos para os empresários que investem na empresa e também um compromisso por parte do Estado para a redução da taxa de IRC, fixando-a no máximo de 17% em 2026.

 

Galp quer implementar na Península Ibérica 10 mil postos de carregamento para EV até 2025

Nesta conferência houve ainda espaço para anúncios. Teresa Abecasis, administradora da Galp, frisou que “as pessoas estão focadas na sustentabilidade, no aproveitamento do seu tempo, a Galp aposta na mobilidade elétrica. Queremos ter 10 mil pontos de carregamento para EV até 2025”.

 

Na hotelaria “não tratamos as pessoas como deveríamos”, destaca Presidente dos hotéis Vila Galé

Jorge Rebelo de Almeida, Presidente dos Vila Galé Hotéis, tomou para falar sobre a situação atual do país e, mais especificamente, do setor do turismo em Portugal.

O Presidente dos Vila Galé Hotéis destacou ainda que, no setor da hotelaria, “não tratamos as pessoas como deveríamos”, sublinhando que o setor deve aproveitar para potenciar as carreiras, tornando as carreiras profissionais mais atrativas e melhor remuneradas.

Jorge Rebelo de Almeida explicou que o setor do Turismo foi “durante a última crise, o grande pilar do desenvolvimento económico do país”, acrescentando que apesar de no ano passado o setor ter perdido 75% da sua faturação, em 2021 já recuperou 50% desse valor, mostrando assim a sua resiliência.

 

Estado e empresas devem focar-se na saúde mental, frisa Head of Marketing da Fidelidade

Sérgio Carvalho, Head of Marketing da Fidelidade, manifestou a preocupação da seguradora  para com o estado da saúde mental dos clientes, nestes tempos depois da pandemia.

Durante a sua intervenção, o executivo sublinhou que a saúde mental “não é um tema que todos conhecemos, mas sim que todos sabemos, são dados claros”.

Sendo assim, “um problema muito forte”, Sérgio Carvalho frisou a necessidade de tanto as empresas como o Estado terem de desempenhar o seu papel”.

 

“5G vai ser uma grande oportunidade para todas as empresas portuguesas”, revela Administrador da Vodafone

Henrique Fonseca, Administrador da Vodafone sublinhou o impacto das novas tecnologias no mundo empresarial, nomeadamente a preponderância da tecnologia 5G.

“A 5G vai ser uma grande oportunidade para todas as empresas portuguesas”, sublinhou Henrique Fonseca, destacando as potencialidades desta nova tecnologia que considera não só como uma evolução, as como uma revolução que terá um grande impacto socioeconómico no mundo empresarial.

Henrique Fonseca criticou ainda o regulador pelo facto de apenas agora ser possível a implementação desta tecnologia, embora não se saiba efetivamente quando.

 

CEO da Randstad critica “diabolização do trabalho temporário”

José Miguel Leonardo, CEO da Randstad, lembrou que “com a pandemia, a globalização tornou o mundo mais pequeno. O local de trabalho deixou de ser motivo de escolha, a forma de trabalhar é diferente, o ritmo de trabalho é diferente, há novos desafios à liderança”.

O executivo sublinha ainda que  “o trabalho temporário é diabolizado. Em Portugal, o trabalho temporário representa apenas 1,1% dos contratos celebrados. Este não é o demónio. Está-se e condenar flexibilidade, dizendo que é “flexibilidade” que ninguém quer.

Por fim, é preciso, para José Miguel Leonardo, sublinhar a questão das competência, “Portugal tem de caminhar muito pela literacia digital, o facto de sermos um país mais velho não é razão de escusa. Há trabalhos que com a digitalização vão desaparecer em 2025, é preciso reconverter as pessoas”, frisa.

 

“A banca continua a ser sexy e é interessante para atrair novos talentos”, diz Administradora da CGD

Maria João Carioca, Administradora da Caixa Geral de Depósitos (CGD), subiu a palco para falar sobre os desafios e oportunidades da banca e para os seus clientes.

Um dos desafios da banca é a atração e a retenção de talento, sobretudo em novas competências digitais, tecnologia, ciência e dados. Tendo em conta esta realidade, os leitores da Executive Digest questionaram Maria João Carioca se a mobilização do talento é um pilar fundamental neste processo de transformação.

Maria João Carioca não tem dúvidas e esclarece que este é um grande desafio para a banca. “A banca continua a ser sexy e tem interesse para atrair novos talentos”, refere a administradora, que salienta ainda o peso da atratividade do risco e dos apoios às organizações como fator para fixar talentos.

 

Flexibilidade laboral ainda é vista como um papão

Já Gonçalo Lobo Xavier, diretor geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), frisou que a flexibilidade é vista como um papão nas negociações com sindicatos. Em novembro e dezembro, com os cidadãos a comprarem mais, são precisas mais pessoas, no entanto este método ainda  é visto como perigoso”.

 

Tabaqueira quer “futuro sem fumo”

Marcelo Nico, Diretor-Geral da Tabaqueira falou sobre as principais inovações no setor, onde tiveram um papel fundamental para a mudança de paradigma na procura de um “futuro sem fumo”.

“Apostamos na ciência para inovar e transformar os nossos produtos rumo a um futuro melhor”, referiu o Diretor-Geral da Tabaqueira, sublinhando que o objetivo é querer um mundo sem fumo, com alternativas baseadas em desenvolvimentos e inovações da empresa que possam substituir os cigarros tradicionais.

Para tal, a Tabaqueira conta atualmente com um centro de desenvolvimento na Suíça onde trabalham 400 cientistas que desenvolvem alternativas ao cigarros tradicionais, num investimento de 600 milhões de euros para a empresa.

 

 “Últimos dois anos de pandemia abriram novas oportunidades de crescimento”, conclui Siza Vieira

Pedro Siza Vieira, ministro da Economia e da Transição Digital, encerrou o evento. O Governante sublinhou que “os últimos dois anos de pandemia abriram novas oportunidades de crescimento e desenvolvimento, o que permitiu consolidar tendências que vinham de trás e restruturar a economia”.