Putin mobiliza 50 mil soldados russos e norte-coreanos para recuperar Kursk e tirar argumentos à Ucrânia nas negociações de paz
Em meio à escalada de tensões, a Rússia mobilizou recentemente uma força de 50 mil soldados, incluindo tropas russas e norte-coreanas, com o objetivo de retomar o controlo de Kursk, uma região estratégica na fronteira com a Ucrânia. Esta ofensiva representa uma resposta decisiva de Moscovo após as forças ucranianas terem avançado inesperadamente para o território russo durante o verão, numa ação que surpreendeu analistas e tornou Kursk uma peça-chave em eventuais negociações de paz.
De acordo com fontes dos Estados Unidos e da Ucrânia, consultadas por meios como o New York Times e a ABC News, Moscovo concentrou uma vasta quantidade de tropas na região para iniciar um ataque em larga escala. Grande parte dos soldados destacados são recrutas novos e sem experiência, o que, segundo analistas, os torna mais vulneráveis. Contudo, o cenário militar complica-se pela presença de 3 mil soldados norcoreanos, parte de um contingente de 12 mil deslocado na Rússia ao abrigo de um acordo entre os dois países, de acordo com informações da inteligência sul-coreana, as quais o Kremlin desmente categoricamente.
Em resposta, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky confirmou, através de uma mensagem no Telegram, que as suas tropas “continuam a conter” o “grupo inimigo de cerca de 50 mil soldados” em Kursk, sublinhando o sucesso temporário das operações defensivas ucranianas. A ofensiva russa, que ocorre poucos dias após a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, sinaliza uma tentativa de Moscovo para fortalecer a sua posição negocial, uma vez que Trump prometeu resolver o conflito “rapidamente”, ainda que isso signifique ceder território ucraniano.
Perdas significativas para o exército russo
A intensa campanha militar em Kursk está a resultar em perdas pesadas para o exército russo. Segundo o Estado-Maior ucraniano, o número de baixas russas em apenas 24 horas chegou a 1.770 soldados entre mortos e feridos, a maior perda registada num único dia desde o início da invasão há mais de dois anos. Dados da inteligência britânica indicam que o mês de outubro registou o maior número de baixas russas desde o início da guerra, com Kiev a estimar cerca de 80 mil soldados russos mortos e feridos entre setembro e outubro.
Os analistas acreditam que a Rússia está a pagar um preço elevado pela tentativa de reconquistar Kursk e enfraquecer a Ucrânia antes de qualquer diálogo de paz. Conforme afirmado por analistas, ambas as partes estão a tentar acumular trunfos para as negociações, com Kiev a utilizar unidades de elite, como a Brigada 47, para defender Kursk, ainda que isso implique fragilizar posições em outros pontos do front, nomeadamente no Donbass.
Pressão simultânea no leste e sul da Ucrânia
A chegada de tropas norte-coreanas permitiu à Rússia reforçar as suas forças no oeste, mas sem aliviar a pressão nos outros flancos. No leste ucraniano, particularmente na região de Donetsk, a situação é crítica. Segundo o Institute for the Study of War (ISW), as tropas russas cercaram Kurakhove, um dos principais redutos ucranianos no Donbass, colocando o exército ucraniano sob uma pressão crescente. Dmitry Pushilin, o líder das forças pró-Rússia em Donetsk, afirmou que combates estão a ocorrer dentro da localidade e que esta está “em processo de libertação”, segundo declarou à televisão estatal russa.
Ao mesmo tempo, no sul, a Rússia concentra unidades de assalto com o objetivo de lançar uma nova ofensiva a partir da região ucraniana de Zaporíjia. Segundo Vladislav Voloshin, chefe do comando ucraniano no sul, o exército russo procura recuperar áreas próximas de Robotine, recapturadas pela Ucrânia no verão passado. Voloshin alertou que os ataques russos no sul de Zaporíjia podem ocorrer em breve, afirmando que as forças ucranianas estão preparadas para uma resposta a qualquer momento.
Numa entrevista à agência de notícias Efe, o especialista militar ucraniano Mykhailo Samus destacou que a Rússia está a intensificar as suas ofensivas para conquistar o máximo de terreno possível antes da posse de Donald Trump, prevista para janeiro. Se a Rússia avançar com ofensivas simultâneas no leste e no sul, as forças ucranianas enfrentam o desafio de manter posições em Kursk enquanto defendem duas frentes ativas.
Ainda não se sabe se Moscovo conseguirá manter esta pressão a longo prazo, especialmente devido às perdas crescentes. No entanto, com o aumento da violência nos principais fronts, parece claro que ambos os lados estão determinados a reforçar as suas posições antes de quaisquer negociações, numa altura em que a incerteza geopolítica continua a marcar o destino do conflito.