Putin ‘mata’ aliança dos países ricos do norte da Europa para controlar gastos na UE
Durante anos, a Alemanha e os países ‘amigos’ da austeridade tinham um lema simples: nada de dívidas conjuntas, nada de concessões orçamentárias e absolutamente nada de cheques em branco para Bruxelas. De acordo com o jornal ‘POLITICO’, esta coligação de nações ricas do norte europeu – Áustria, Dinamarca, Suécia, Finlândia e Países Baixos – controlou firmemente os cordões à bolsa da União Europeia.
No entanto, esta frente unida do norte da Europa apresenta fendas: a guerra nas fronteiras da Europa, as mudanças económicas e um presidente dos Estados Unidos de olho numa retirada da NATO forçaram uma reconsideração – e a aliança oscila num momento em que a UE se prepara para o seu próximo grande confronto orçamentário.
No passado, estes países desenvolveram uma “estratégia bem elaborada e unida para impedir ideias que tivessem a ver com mais gastos”, apontou um funcionário europeu à publicação. No entanto, as próximas negociações sobre o orçamento 2028-2034 prometem ser “completamente diferentes”
“Um grupo de países nórdicos e bálticos está a desenvolver uma visão diferente focada na questão da segurança que os distingue de outros países frugais como os Países Baixos e a Áustria”, apontou Eulalia Rubio, analista do think tank do Instituto Jacques Delors. A soberania tornou-se o novo grito de guerra e até mesmo defensores ferrenhos da política fiscal – como Dinamarca ou Finlândia – estão a animar-se com a ideia de afrouxar os cordões à bolsa para reforçar a defesa coletiva e a resiliência da UE contra ameaças externas.
Um sinal fundamental desta mudança foi o discurso de Ano Novo da primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, que surpreendeu ao defender mais gastos com Defesa, auxílio estatal e investimento na soberania da Europa. Para um país cético com uma integração mais profunda com a UE, as palavras de Frederiksen são uma mudança radical. ‘Esprimida’ entre a ofensiva russa na Ucrânia e o desejo de Donald Trump pela Gronelândia, a primeira-ministra dinamarquesa apostou em ideias de soberania da UE ao estilo francês.
“Estamos a olhar para a ajuda estatal com novos olhos, a olhar para a dívida comum com novos olhos e a olhar para o orçamento da UE com novos olhos. É um novo tempo”, disse Frederiksen, em entrevista – segundo os analistas, os comentários da responsável político é um marco no relacionamento da Dinamarca com a UE e uma possível divisão dentro da aliança nórdica-alemã. Este não é um desenvolvimento pequeno: Frederiksen é uma das líderes mais estáveis e experientes da UE, e o seu país ocupará a presidência rotativa do Conselho da UE no final deste ano — dando a Copenhaga influência significativa sobre a agenda do bloco.
O que é certo é que a invasão da Ucrânia pela Rússia forçou um acerto de contas entre os membros do norte da UE, particularmente em relação aos gastos com Defesa. Países como Finlândia e Estónia, que estão geograficamente mais próximos do conflito, agora apoiam a dívida conjunta da UE para financiar compras de armas — uma noção que era impensável para esta ‘aliança’ no passado. No entanto, outros membros não mudaram de ideia: Alemanha e Países Baixos continuam firmemente opostas à dívida conjunta da UE para Defesa, ressaltando a divisão cada vez mais profunda dentro da coligação.