“Próximos meses podem não ser o que desejamos”: Marcelo alerta Governo para pressão do BCE em subir taxas de juro
Marcelo Rebelo de Sousa alertou, esta quinta-feira, o Governo para deixar “margem” para as dificuldades previstas para 2024 face à evolução económica internacional: o BCE pode aumentar novamente as taxas de juro em setembro, para reduzir a inflação para a meta de 2%, especialmente se a inflação não cair tão rapidamente como esperado.
“Seria necessário um novo aumento das taxas de juro em setembro se não houvesse provas convincentes de que o efeito da restrição acumulada não foi suficientemente forte para reduzir a inflação subjacente”, explicou o BCE.
“Há sinais internacionais que começavam a ser preocupantes: primeiro, em alguns países europeus com inflação alta, embora melhor do que esteve. Aliás, a nossa situação é melhor do que a média europeia. Mas se a Europa se mantém assim, o BCE pode ter a pressão para um novo aumento dos juros. Esperávamos uma folga em setembro. Vamos ver que outros números saem até à reunião mas não é boa notícia para 1,2 milhões de portugueses com contratos com a banca e olham para os juros, mês após mês, a subirem, o que significa um aumento das prestações”, apontou o Presidente da República.
“Há um segundo problema: o segundo trimestre foi de crescimento zero e na Europa há países com economias importantes com situações piores do que a portuguesa. Se assim for, significa que nos próximos meses, até ao final do próximo ano, pode não ser o que desejamos”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa, à margem da Feira do Livro no Palácio de Belém.
Aliás, Portugal enfrenta duas ‘tempestades’: “Nas feiras de turismo, há sinais que são desfavoráveis à evolução do turismo até ao início do próximo ano. E sabem como isso é importante para nós. Tudo isto, em conjunto, pode significar que Portugal não vê o turismo subir ao ritmo que estava a subir, assim como as exportações, e sofrer com isso”, explicou Marcelo Rebelo de Sousa, salientando que a “inflação externa pode provocar política de juros altos do BCE”.
Face às dificuldades, o Presidente deixou o alerta para o Governo. “A elaboração do Orçamento do Estado está numa fase avançada e muito do que se pensa que será o futuro pode ainda sentir-se este ano e vai haver preocupação de poupar Portugal àquilo que seja indevidamente adicional. O Governo já anunciou que não tenciona utilizar uma parte dos empréstimos do PRR por uma boa razão. Já uma forma de prevenir o futuro, temos margem que pode contribuir para compensar o que pode não chegar de turismo e exportações em 2024”, referiu.
No entanto, apontou, “o que podemos fazer para dominar a situação internacional é limitado”.
Questionado sobre a intenção do sindicato STOP de avançar para uma greve no início do ano letivo, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “o que desejamos é que o novo ano letivo possa corresponder às expectativas, depois de um ano letivo intermitente e com desigualdades”.