Propagandistas de Putin admitem sabotagem de cabos no “Lago da NATO” com o objetivo de “congelar a Europa”
A sabotagem de cabos no Mar Báltico, atribuída pela comunidade internacional à Rússia, está a gerar alarme entre os líderes europeus e, agora, são os próprios propagandistas do Kremlin e aliados de Putin a assumir a autoria dos episódios de sabotagem. O incidente, que envolveu o corte do cabo elétrico Estlink-2 entre a Estónia e a Finlândia no dia de Natal, foi descrito por um deputado russo como uma resposta às “ações agressivas da Ucrânia”. A alegação foi transmitida pelo canal NTV e divulgada por Julia Davis, especialista em assuntos russos.
Os comentários de Andrey Federov, ex-vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, num programa do canal de TV estatal da Rússia, indicam que o corte foi um ato intencional. Segundo Federov, a situação foi mascarada como um acidente, sugerindo: “É uma bela história: estávamos a navegar, largámos a âncora e, acidentalmente, atingimos um cabo.” Apesar disso, questionou-se no programa televisivo Mesto Vstrechi (Ponto de Encontro) qual o real impacto do incidente. “Se não fez Helsínquia congelar, qual é o objetivo?” perguntou o apresentador Ivan Trushkin. Federov respondeu que o objetivo seria “criar problemas” para os países-alvo.
Meanwhile in Russia: State Duma member Alexander Kazakov explained why Russia is cutting undersea cables. Propagandists complained that Europe is still not freezing and isn't suffering nearly enough, as they contemplated "punishing" it after this war ends.https://t.co/lk88RZTgdy
— Julia Davis (@JuliaDavisNews) January 6, 2025
Por sua vez, o deputado russo Alexander Kazakov foi mais direto ao afirmar que a Rússia vê o Mar Báltico como “um teatro de operações militares”. Kazakov explicou que o corte de cabos faz parte de uma estratégia mais ampla para “libertar o Báltico” e recuperar a influência marítima russa. Referiu ainda que a adesão da Finlândia e da Suécia à NATO transformou o Báltico num “mar interno da NATO”, complicando a posição estratégica de Moscovo.
Este incidente surge num momento em que a Rússia enfrenta pressões crescentes no Mar Negro, com ataques ucranianos a forçarem a frota russa a deslocar-se de Sebastopol, na Crimeia ocupada, para Novorossiysk, na região russa de Krasnodar. Kazakov sublinhou que a perda de controlo do Mar Negro seria catastrófica para a Rússia e que ações no Báltico servem como forma de pressão e retaliação contra a NATO e os seus aliados.
As autoridades finlandesas estão a investigar os danos no cabo Estlink-2 e em vários cabos de dados associados. Foi identificado um rasto de âncora de 60 milhas no fundo do mar, ligando o incidente ao navio Eagle S, suspeito de pertencer à “frota sombra” da Rússia usada para contornar sanções ocidentais. A Agência de Transportes e Comunicações da Finlândia (Traficom) anunciou que está a inspecionar o navio, mas os resultados finais ainda não foram divulgados.
O incidente intensifica os receios de que Moscovo possa aumentar os ataques híbridos contra infraestruturas críticas na Europa, especialmente no contexto de um Báltico dominado pela NATO. Com a presença militar russa em São Petersburgo e Kaliningrado, a região continua a ser um ponto de tensão estratégica.
Julia Davis, ao comentar a situação, afirmou que a propaganda russa exibe um desejo claro de “punir a Europa”, destacando como os propagandistas lamentam que o continente ainda não esteja a sofrer “o suficiente”. Enquanto isso, líderes europeus permanecem em alerta, atentos a possíveis novos ataques por parte de Moscovo.