Propagandistas de Putin admitem sabotagem de cabos no “Lago da NATO” com o objetivo de “congelar a Europa”

A sabotagem de cabos no Mar Báltico, atribuída pela comunidade internacional à Rússia, está a gerar alarme entre os líderes europeus e, agora, são os próprios propagandistas do Kremlin e aliados de Putin a assumir a autoria dos episódios de sabotagem. O incidente, que envolveu o corte do cabo elétrico Estlink-2 entre a Estónia e a Finlândia no dia de Natal, foi descrito por um deputado russo como uma resposta às “ações agressivas da Ucrânia”. A alegação foi transmitida pelo canal NTV e divulgada por Julia Davis, especialista em assuntos russos.

Os comentários de Andrey Federov, ex-vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, num programa do canal de TV estatal da Rússia, indicam que o corte foi um ato intencional. Segundo Federov, a situação foi mascarada como um acidente, sugerindo: “É uma bela história: estávamos a navegar, largámos a âncora e, acidentalmente, atingimos um cabo.” Apesar disso, questionou-se no programa televisivo Mesto Vstrechi (Ponto de Encontro) qual o real impacto do incidente. “Se não fez Helsínquia congelar, qual é o objetivo?” perguntou o apresentador Ivan Trushkin. Federov respondeu que o objetivo seria “criar problemas” para os países-alvo.

Por sua vez, o deputado russo Alexander Kazakov foi mais direto ao afirmar que a Rússia vê o Mar Báltico como “um teatro de operações militares”. Kazakov explicou que o corte de cabos faz parte de uma estratégia mais ampla para “libertar o Báltico” e recuperar a influência marítima russa. Referiu ainda que a adesão da Finlândia e da Suécia à NATO transformou o Báltico num “mar interno da NATO”, complicando a posição estratégica de Moscovo.

Este incidente surge num momento em que a Rússia enfrenta pressões crescentes no Mar Negro, com ataques ucranianos a forçarem a frota russa a deslocar-se de Sebastopol, na Crimeia ocupada, para Novorossiysk, na região russa de Krasnodar. Kazakov sublinhou que a perda de controlo do Mar Negro seria catastrófica para a Rússia e que ações no Báltico servem como forma de pressão e retaliação contra a NATO e os seus aliados.

As autoridades finlandesas estão a investigar os danos no cabo Estlink-2 e em vários cabos de dados associados. Foi identificado um rasto de âncora de 60 milhas no fundo do mar, ligando o incidente ao navio Eagle S, suspeito de pertencer à “frota sombra” da Rússia usada para contornar sanções ocidentais. A Agência de Transportes e Comunicações da Finlândia (Traficom) anunciou que está a inspecionar o navio, mas os resultados finais ainda não foram divulgados.

O incidente intensifica os receios de que Moscovo possa aumentar os ataques híbridos contra infraestruturas críticas na Europa, especialmente no contexto de um Báltico dominado pela NATO. Com a presença militar russa em São Petersburgo e Kaliningrado, a região continua a ser um ponto de tensão estratégica.

Julia Davis, ao comentar a situação, afirmou que a propaganda russa exibe um desejo claro de “punir a Europa”, destacando como os propagandistas lamentam que o continente ainda não esteja a sofrer “o suficiente”. Enquanto isso, líderes europeus permanecem em alerta, atentos a possíveis novos ataques por parte de Moscovo.