Prisão de Sednaya: Horrores do ‘Matadouro’ de Assad revelados com queda do regime na Síria

A queda do regime de Bashar al-Assad no domingo, marcada pela tomada de Damasco por forças rebeldes islamistas, trouxe à luz horrores cometidos durante anos sob seu governo. Entre os eventos mais marcantes está a libertação da prisão de Sednaya, conhecida como o “Matadouro”, onde milhares de opositores foram torturados, mortos ou desapareceram, segundo organizações como a Amnistia Internacional e o Observatório Sírio para os Direitos Humanos.

Situada a cerca de 30 quilómetros de Damasco, a prisão de Sednaya ganhou infâmia internacional como símbolo das práticas brutais do regime de al-Assad. Relatórios detalham torturas sistemáticas, execuções extrajudiciais e condições desumanas. Vídeos gravados após a libertação da prisão, amplamente partilhados em redes sociais como X/Twitter, revelam cenas de horror e sofrimento, destacando a magnitude das violações de direitos humanos cometidas no local.

Crianças nascidas em cativeiro e marcadas pela violência

Entre as atrocidades denunciadas em Sednaya estão os relatos de agressões sexuais frequentes contra prisioneiras. Um dos vídeos mais chocantes mostra crianças pequenas que teriam nascido na prisão, fruto de violações perpetradas por guardas ou outros detidos. Estas crianças viveram toda a sua curta existência confinadas com as mães. “Estas imagens são um lembrete das profundas cicatrizes deixadas por anos de repressão brutal”, afirmou um ativista sírio, que preferiu não ser identificado.

Com a libertação da prisão, familiares de prisioneiros deslocaram-se ao local em busca de notícias de entes queridos. Muitos tentam identificar pistas nos documentos deixados para trás pelos guardas, procurando esclarecer o destino dos desaparecidos. As áreas mais profundas e isoladas da prisão, fortemente vigiadas, ainda não foram completamente exploradas, o que mantém a esperança de encontrar sobreviventes.

Entre os sobreviventes, cenas emocionantes marcaram os reencontros após décadas de separação. “Nunca pensei que o veria novamente”, disse um homem ao abraçar o irmão, que esteve preso por 15 anos.

O caso de Ragheed al-Tatari: 43 anos de prisão

Um dos casos mais emblemáticos é o de Ragheed al-Tatari, um ex-piloto militar que passou 43 anos encarcerado. Al-Tatari foi preso por se recusar a obedecer a ordens de bombardear civis na cidade de Hama em 1981, durante o governo de Hafez al-Assad, pai de Bashar. A sua libertação simboliza tanto a crueldade do regime quanto a resiliência dos prisioneiros políticos.

 

Incertezas e novos desafios

Apesar da queda de Bashar al-Assad, a Síria permanece mergulhada em incertezas. O líder dos rebeldes que tomaram Damasco, Abu Mohamed al-Jolani, chefe do grupo jihadista Hay’at Tahrir al-Sham (HTS), tem um passado ligado à Al Qaeda. Nos últimos anos, tentou reposicionar-se como uma figura mais moderada, mas as divisões entre facções continuam a alimentar tensões no território.

Analistas alertam que, embora o fim do regime de al-Assad represente uma mudança significativa, os conflitos internos e os desafios de reconstrução política e social colocam a Síria perante um futuro imprevisível.

A libertação da prisão de Sednaya lança luz sobre a necessidade de justiça para as vítimas e sobreviventes das atrocidades cometidas, num país ainda marcado pela devastação de uma guerra que parece longe do fim.