Polícia recebe indicações para não actuar em caso de cânticos e atitudes racistas, diz Presidente da ASPPP/PSP
O presidente da Associação Sindical de Profissionais de Polícia (ASPP/PSP), Paulo Rodrigues, referiu, em declarações à Renascença, que a polícia recebe indicações concretas para não intervir em casos de cânticos e atitudes racistas, nos estádios de futebol.
«Quando as próprias entidades que dão as directivas à polícia preferem que não haja intervenção se houver um cântico racista no meio de uma bancada… Uma intervenção da polícia traz outro tipo de problemas», disse citado pela Renascença.
O dirigente questiona ainda as atitudes policiais: «será que a polícia não tem identificado (autores de cânticos racistas)? Se calhar, tem. Mas, e acima? Será que tem havido resposta concreta? Quando as pessoas deviam ser punidas, levam apenas contra-ordenações. Assim, há um sentimento de impunidade», declara.
Paulo Rodrigues considera que o Governo, bem como os tribunais e a Assembleia da República, têm determinadas responsabilidades neste tipo de situações, relativas ao futebol português: «Nós temos alertado, desde há anos, que o espaço do futebol deixou de ser um espaço de desportivismo e de festa e, durante anos, as várias entidades foram assobiando para o lado», diz citado pela RR.
«A violência é desvalorizada por ser no âmbito do futebol”, acrescenta o presidente da ASPP/PSP, dizendo que «tudo o que se tem passado nos estádios, desde agressões a ameaças e a insultos, sejam racistas ou não, têm sido sempre desvalorizados pelas várias entidades responsáveis», afirma.
Paulo Rodrigues fala ainda da desvalorização que situações como a de Marega, muitas vezes sofrem, por parte das forças policiais: «os polícias já fizeram detenções por razões de insultos e, quando chegam a tribunal, os casos são completamente desvalorizados. Os polícias acabam por sentir que não vale a pena estar a fazer detenções para ir a tribunal e saírem de lá humilhados», declara o dirigente.
«Hoje, vi entidades a lamentar o sucedido. Muitos deles [dos seus representantes] tiveram em posições em que podiam alterar as coisas e nada fizeram. Limitaram-se a ir ver jogos de futebol a convite de presidentes O ‘lobby’ do futebol é muito forte a ponto de condicionar a política», defende citado pela RR.
Para o dirigente a situação de Marega não é novidade, excepto, a parte em que o jogador abandonou o jogo, em jeito de protesto para com os comentários racistas de que estava a ser alvo. Conclui dizendo: «É de louvar a atitude de Marega».