Polícia francesa prende fundador de site usado pelo ex-marido de Gisèle Pelicot para recrutar homens para a violar
Isaac Steidl, fundador do site Coco, foi detido pela polícia francesa por suspeita de criar uma plataforma utilizada para a prática de crimes graves, incluindo violações, pedofilia e homicídios. Entre os utilizadores do site estava Dominique Pelicot, ex-marido de Gisèle Pelicot, que usou a plataforma para recrutar homens para abusar da sua esposa enquanto ela se encontrava inconsciente.
De acordo com a France Info Radio, Steidl, de 44 anos, foi convocado de sua residência para Paris, onde foi detido e está atualmente a ser interrogado pelas autoridades. O site Coco, criado por Steidl em 2003, tornou-se alvo de investigações depois de se descobrir que era usado por criminosos para facilitar abusos e outros delitos.
Originalmente concebido como uma plataforma de encontros, Coco rapidamente atraiu delinquentes, tornando-se associado a mais de 23.000 crimes em França, segundo as autoridades. Em 2023, o site foi encerrado na sequência de uma investigação conduzida pelas forças de segurança francesas.
O caso de Gisèle Pelicot trouxe o site Coco para o centro das atenções mediáticas. Dominique Pelicot, ex-marido de Gisèle, usou um fórum na plataforma, denominado A son insu (“sem o seu conhecimento”), para recrutar mais de 80 homens com o objetivo de abusarem sexualmente da sua esposa. Pelicot administrava drogas prescritas à esposa para a deixar inconsciente antes dos abusos.
Em dezembro de 2024, 50 destes homens foram julgados por um tribunal em Avignon, e todos, exceto um, foram condenados por violação. Dominique Pelicot foi sentenciado a 20 anos de prisão pelos seus crimes.
Isaac Steidl criou o site Coco com o apoio financeiro dos seus pais, que investiram 2.000 euros no projeto após Steidl se formar como engenheiro informático. Embora o site tenha sido concebido como uma plataforma de encontros, rapidamente foi apropriado por criminosos e agressores sexuais.
Casos chocantes envolvendo o uso do site continuaram a surgir. Em 2023, a organização LGBTQ+ SOS Homophobie apelou ao encerramento da plataforma depois de esta ter sido usada para planear um ataque brutal a um homem, que foi espancado com bastões e paus. Outro caso envolveu o homicídio de um jovem de 22 anos perto de Dunquerque, depois de dois menores se passarem por uma rapariga para marcar um encontro com a vítima através do site.
A dimensão dos crimes associados ao Coco levou as autoridades francesas a iniciarem mais de 23.000 processos judiciais relacionados com o site. Os procuradores revelaram que os administradores da plataforma mudavam frequentemente de domínios e países para evitar responsabilizações legais. Após o caso Gisèle Pelicot ganhar atenção internacional, o site foi transferido para um domínio registado na ilha de Guernsey, no Reino Unido.
A Procuradora de Paris, Laure Beccuau, anunciou que a investigação ao site resultou na apreensão de mais de 5 milhões de euros e no congelamento de contas bancárias em vários países, incluindo Hungria, Lituânia, Alemanha e Países Baixos.
“Na altura, suspeitava-se que um homem de nacionalidade italiana, nascido em 1980, estivesse a administrar o site”, afirmou Beccuau.
Antes da detenção de Steidl, a polícia búlgara interrogou o fundador em junho de 2024, juntamente com três familiares seus, que foram libertados após os depoimentos. Em julho, dois moderadores do site também foram detidos, de acordo com o jornal francês Le Figaro.