Polémica operação no Martim Moniz estava a ser preparada desde setembro: mais de 50 crimes com armas brancas na zona motivaram intervenção musculada da PSP
A operação da PSP no Bairro da Mouraria, em Lisboa, no passado dia 19, começou a ser preparada em setembro último, revelou esta sexta-feira o jornal ‘Expresso’, depois de várias denúncias de ataques com armas brancas em três zonas da capital portuguesa: Largo do Martim Moniz, Rua do Benformoso e Largo de São Domingos.
Miguel Coelho, presidente da Junta de Santa Maria Maior, já havia denunciado publicamente a situação de insegurança, apelando a medidas urgentes da autarquia, da polícia e do Governo – juntou numa sessão pública entre 30 e 40 vítimas de crimes. “Até os lavadores da junta de freguesia são confrontados muitas vezes com bandidos que não querem que lavem as ruas, porque escondem a droga debaixo das pedras”, referiu.
A PSP levou em consideração as denúncias do responsável político. “Esta operação policial decorre de uma extensa análise de denúncias e participações, do relatado pelos ofendidos”, confirmou a Direção Nacional da PSP ao semanário. Assim, a operação – que decorreu depois de a PSP ter entregue ao Ministério Público dados sobre a ocorrência de 52 crimes praticados com armas brancas em quase dois anos nas três zonas – foi “balizada naquela área geográfica e enquadrada na lei das armas”.
De acordo com o jornal semanário, grande parte dos ataques com facas tiveram como autores, mas também como vítimas, membros da comunidade indostânica, que residem e trabalham naquelas zonas. Há no entanto vítimas (e suspeitos) de outras nacionalidades, incluindo portugueses. “A operação não se cingiu à comunidade imigrante e nada tem a ver com perseguição a minorias étnicas. Os dois detidos têm nacionalidade portuguesa”, referiu fonte da PSP.
A operação policial foi alvo de críticas de vários quadrantes: segundo a ASPP/PSP, o maior sindicato da polícia, é importante “aferir se as operações policiais levadas a cabo estão ou não a ser instrumentalizadas politicamente ou mesmo partidariamente” e “se a operação serviu para propósitos políticos e se isso coloca a PSP como um instrumento político ao serviço do Governo”. No entanto, fonte oficial da PSP refutou as críticas, lembrando que “aquele é um local de risco” e que “já houve operações bem mais musculadas, nomeadamente em que a PSP dava apoio ao SEF, tanto no Martim Moniz, como na Quinta da Fonte, Musgueira ou vários bairros da Amadora”.
“Não houve qualquer intromissão ou influência do Governo”, reforçou outra fonte da PSP, garantindo que a operação já estava a ser preparada ainda antes de o Executivo ter avançado com a campanha de prevenção e segurança ‘Portugal Sempre Seguro’. A atuação policial foi enquadrada na lei e não foi a primeira vez que aconteceu: o procedimento de isolar pessoas na rua serve para “proteger os agentes e também as outras pessoas alvo de revista no caso de alguém reagir e ameaçá-las com uma arma”. “Determinados procedimentos, que podem parecer excessivos à primeira vista”, servem para “evitar que situações de risco evoluam para cenários de violência ou até uso de força letal”, indicou Luís Marques Fernandes, presidente do Observatório de Segurança Interna. “As forças de segurança têm de adotar uma postura cautelosa e preventiva, o que pode envolver medidas como a revista de pessoas encostadas à parede, mãos no ar ou na cabeça, dedos entrelaçados ou até o uso de algemas, dependendo da avaliação operacional do momento.”