Pobreza em Portugal voltou a aumentar. Já são 2,1 milhões de pessoas a viver com menos de 591 euros por mês

O número de pessoas em situação de pobreza voltou a aumentar em Portugal, atingindo níveis preocupantes. De acordo com os dados mais recentes, 2,1 milhões de pessoas vivem atualmente com menos de 591 euros por mês, um valor que define o limiar da pobreza no país. Esta realidade alarmante foi destacada numa entrevista à por Maria José Vicente, coordenadora da EAPN (Rede Europeia Anti-Pobreza), que lamentou o agravamento da situação.

Maria José Vicente, em entrevista à TVI, sublinhou que a pobreza monetária tem um impacto desproporcional sobre certos grupos da população, como mulheres, crianças ou idosos.

A pobreza em Portugal tem vindo a agravar-se de forma significativa, refletindo-se no aumento do número de pessoas que recorrem a ajuda de instituições de solidariedade. Nos primeiros seis meses deste ano, cerca de 7 mil pessoas pediram auxílio à AMI (Assistência Médica Internacional), um aumento de 15% em relação ao ano passado. Destas, mais de mil estavam a pedir ajuda pela primeira vez, um sinal de que novas famílias estão a cair na pobreza.

Os números revelam que 62% dos que pediram apoio estão em idade ativa, mostrando que a pobreza afeta uma faixa populacional que, à partida, deveria estar integrada no mercado de trabalho. Do total, 27% são menores de 16 anos e 11% têm mais de 66 anos, indicando que tanto os jovens como os mais idosos estão igualmente vulneráveis.

A situação dos reformados em Portugal é igualmente grave. De acordo com o Relatório da Conta da Segurança Social de 2022, num universo de pouco mais de dois milhões de pensionistas, cerca de 1,3 milhões recebiam menos de 591 euros por mês, colocando-os abaixo do limiar da pobreza. Destes, mais 273 mil reformados recebiam menos de 278,05 euros mensais, o que corresponde à pensão mínima. Sem os complementos que o Estado paga a estes pensionistas, o grau de pobreza seria ainda mais elevado.

O relatório destaca que “se constata um aumento do número de complementos face ao total de pensionistas, refletindo o facto de haver mais pensionistas com valor abaixo do mínimo estabelecido”. Este crescimento do número de pensionistas que dependem de complementos do Estado é um reflexo direto da degradação dos rendimentos de aposentadoria.

A análise revela ainda que dois em cada três pensionistas têm uma reforma igual ou inferior a 443,20 euros, enquanto pouco mais de 300 mil se encontram no escalão seguinte, entre 443,21 e 664,79 euros. Apenas cerca de 374 mil pensionistas recebem valores superiores a 664,80 euros, evidenciando a disparidade nos rendimentos de aposentadoria no país.

Nestas instituições, os casos multiplicam-se, mas cada um é tratado de forma diferente, até porque todos refletem realidades distintas. Após uma vida inteira a trabalhar na restauração, Olivia reformou-se com uma pensão de apenas 380 euros, um valor insuficiente para cobrir as suas necessidades básicas. “Reformei-me há pouco tempo, não dá para pagar casa”, contou ao mesmo canal de televisão, descrevendo a sua luta para encontrar uma solução habitacional mais acessível. “Queria ver se conseguia arranjar um quarto mais barato, ou uma casa para dividir, e assim podia partilhar essas despesas com a minha filha”, disse, numa tentativa de equilibrar o orçamento.