Pobreza absoluta em Portugal cai, mas Lisboa regista níveis preocupantes à boleia do preço das casas

A taxa de risco de pobreza absoluta em Portugal diminuiu nos últimos 17 anos, situando-se atualmente entre os 8,5% e os 12,6%, dependendo do método de cálculo utilizado. Embora tenha ocorrido uma melhoria, os dados revelam ainda disparidades significativas, especialmente entre desempregados e famílias com crianças.

De acordo com o relatório intercalar Portugal, Balanço Social, intitulado “Quem consegue pagar as despesas essenciais? Uma análise da pobreza absoluta em Portugal”, publicado pela Fundação la Caixa | BPI e elaborado pela equipa da Nova SBE, coordenada pela Professora Susana Peralta, os desempregados continuam a ser os mais afetados pela pobreza absoluta, com uma taxa de 25%, seguida pelas famílias com crianças, que registam 12,2%.

Lisboa destaca-se como a única região do país onde a pobreza absoluta ultrapassa a relativa, refletindo o elevado custo de vida na capital, especialmente no que se refere à habitação. As regiões autónomas, nomeadamente Açores e Madeira, apresentam as maiores taxas de pobreza absoluta, com 22,1% e 15%, respetivamente.

O estudo adota uma abordagem diferente da oficial, considerando o custo das despesas essenciais, como alimentação, habitação, água e energia, em vez de se basear no conceito de pobreza relativa, que compara o rendimento dos indivíduos ao dos outros. Utilizando os microdados do Inquérito às Despesas das Famílias de 2022, os resultados revelam que, ao aplicar o método de Orshansky, a taxa de pobreza absoluta em Portugal atinge 12,6%, afetando cerca de 1,3 milhões de pessoas. Este valor está 3,8 pontos percentuais abaixo da taxa de pobreza relativa oficial.

Entre os grupos mais vulneráveis, os desempregados e as famílias numerosas são os mais afetados. As famílias com crianças enfrentam um risco elevado de pobreza absoluta, com uma taxa de 21,2%, enquanto as famílias com mais de três filhos registam 49,2% de risco de pobreza absoluta.

No que diz respeito à pobreza extrema, que corresponde à incapacidade de pagar uma dieta alimentar adequada, cerca de 1% da população portuguesa (aproximadamente 100 mil pessoas) vive nesta situação. As crianças e os estrangeiros são os mais afetados, com taxas de pobreza extrema de 1,9% e 1,3%, respetivamente.

Em termos de regiões, a pobreza absoluta extrema é mais prevalente na Região Autónoma dos Açores (1,9%), seguida pela Área Metropolitana de Lisboa (1,4%), indicando a concentração de famílias com rendimentos extremamente baixos nestas áreas.

O relatório aponta para a necessidade de políticas públicas mais eficazes para combater as desigualdades e proteger os grupos mais vulneráveis da sociedade, principalmente em um contexto de elevado custo de vida nas grandes cidades e regiões autónomas.