Plano de paz de Trump pode significar divisão territorial da Ucrânia, alerta ex-embaixador

Oleh Shamshur, ex-embaixador da Ucrânia nos Estados Unidos (2006–2010) e em França (2014–2020), alertou para o que considera ser um risco significativo no suposto “plano de paz” associado ao ex-presidente norte-americano Donald Trump. Em entrevista à agência Ukrinform, Shamshur afirmou que as propostas apresentadas por representantes da equipa de Trump sugerem, de facto, a divisão da Ucrânia.

De acordo com Shamshur, a prioridade de Trump, enquanto figura central no panorama político dos Estados Unidos, parece ser levar Vladimir Putin a aceitar negociações. Contudo, o ex-presidente evita divulgar os detalhes do plano, sendo que as informações mais fiáveis até ao momento provêm do vice-presidente norte-americano J.D. Vance, do secretário de Estado Marco Rubio e do representante especial para a Ucrânia e a Rússia, Keith Kellogg.

“Trata-se de um cessar-fogo ao longo da linha de demarcação. Na prática, embora não o afirmem diretamente, o plano de Trump baseia-se na ideia de Putin manter o controlo não só sobre os territórios ocupados desde 2014, mas também sobre as áreas conquistadas durante a sua recente agressão em larga escala. Tudo indica que este plano configura uma divisão efetiva da Ucrânia”, afirmou Shamshur.

O diplomata deixou claro que os ucranianos não devem alimentar ilusões sobre a recuperação dos territórios ocupados num futuro próximo. “Esta dor permanecerá connosco durante décadas”, lamentou. Apesar disso, Shamshur acredita que os norte-americanos entendem a necessidade de fornecer garantias de segurança à Ucrânia, embora ainda não tenham apresentado propostas concretas.

Segundo o ex-embaixador, essa falta de clareza é agravada pelas declarações de Trump contra a adesão da Ucrânia à NATO. “Se Trump rejeita a ideia de integrarmos a NATO, que tipo de garantias de segurança nos podem oferecer? Fala-se na possibilidade de armar a Ucrânia com volumes e tipos de armamento sem precedentes. Gostaria de ver isso concretizado”, salientou Shamshur.

Oleh Shamshur não esconde o seu ceticismo em relação ao impacto de um possível acordo de paz liderado por Trump. “Os parâmetros de uma possível solução sob a liderança de Trump não favorecem a Ucrânia. Podem estas condições mudar? Talvez. No entanto, os sinais até agora mostram um consenso na equipa de Trump: a Ucrânia deve fazer concessões, e essas concessões comprometem os nossos interesses nacionais e a integridade territorial”, afirmou o diplomata.

O alerta de Shamshur surge em consonância com as recentes declarações do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Em entrevista à Bloomberg, Zelensky destacou que o objetivo prioritário da Ucrânia é alcançar “uma paz forte e justa”. Contudo, o que emerge das análises ao “plano de Trump” aponta para desafios significativos na concretização desse objetivo, colocando em causa a soberania e a unidade territorial do país.