Petição com quase 90 mil assinaturas defende Nobel da Paz para Gisèle Pelicot

Uma petição online tornou-se viral após propor, na semana passada, que Gisèle Pelicot fosse distinguida com o Prémio Nobel da Paz. Pelicot ganhou reconhecimento global ao enfrentar o seu ex-marido e dezenas de outros agressores num julgamento de violação em massa que chocou a França e a transformou num ícone feminista.

Até ao momento, a petição já reuniu quase 90 mil assinaturas em menos de uma semana. “Ninguém merece mais o Prémio Nobel do que Gisèle Pelicot”, escreveu Catherine Mayer, jornalista britânica que iniciou a petição, justificando a sua proposta.

Durante quase uma década, o ex-marido de Gisèle Pelicot, Dominique Pelicot, administrava-lhe sedativos e violava-a enquanto estava inconsciente, convidando homens recrutados online para fazerem o mesmo, sem o seu conhecimento ou consentimento. Em janeiro, o fundador do site utilizado por Dominique Pelicot para recrutar estes homens foi detido.

A coragem e transparência de Gisèle Pelicot durante os três meses de julgamento contra o seu ex-marido e outros 50 homens chamou a atenção dos meios de comunicação franceses e internacionais, bem como de grupos de direitos das mulheres em todo o mundo. Pelicot abdicou do seu direito ao anonimato como sobrevivente de abuso sexual, insistindo que “a vergonha deve recair sobre os seus agressores, e não sobre ela”.

“Gisèle Pelicot conseguiu romper com o véu de desinformação ao renunciar ao anonimato para participar no julgamento dos seus agressores e testemunhar”, destacou Mayer.

O tribunal na cidade de Avinhão condenou Dominique Pelicot por violação e todas as outras acusações que lhe foram imputadas, sentenciando-o a 20 anos de prisão, a pena máxima prevista na França. Aos outros 50 homens considerados culpados de violar Gisèle Pelicot foram aplicadas penas que variam entre três e quinze anos de prisão.

Após a leitura das sentenças, Pelicot deixou uma mensagem de esperança: “Quero que saibam que partilhamos a mesma luta. Quando abri as portas deste julgamento… quis que a sociedade assistisse aos debates que aqui ocorreram”, afirmou. “Agora, tenho confiança na nossa capacidade de encontrar um futuro melhor, onde todos, mulheres e homens, possam viver em harmonia, respeito e compreensão mútua”.

Gisèle Pelicot foi eleita Personalidade do Ano em 2024 numa sondagem de opinião francesa, ultrapassando líderes mundiais como o presidente francês Emmanuel Macron e Volodymyr Zelensky, da Ucrânia.

Em 2018, o comitê do Prémio Nobel da Paz atribuiu o prémio ao ginecologista congolês Dr. Denis Mukwege e à ativista yazidi Nadia Murad pela luta contra a violência sexual. Em 2024, a organização japonesa Nihon Hidankyo, um movimento de base de sobreviventes das bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaki, recebeu o prémio.